Nota é assinada por força-tarefa do MP que acompanhou investigação da Chacina do Curió (Foto: Divulgação/MP-CE)

Nota é assinada por força-tarefa do MP que acompanhou investigação da Chacina do Curió (Foto: Divulgação/MP-CE)

Promotores da força-tarefa que acompanhou investigação da Chacina do Curió repudiaram nesta quinta-feira, 23, acusações do deputado Capitão Wagner (PR) sobre inquérito do caso. Em nota divulgada à imprensa, os promotores do caso contestaram fala do parlamentar e “lamentaram” que ele “busque politizar a mais grave chacina da história do Ceará”.

Em fala na tribuna da Assembleia nesta quarta-feira, 22, Capitão Wagner acusou delegada responsável pelo inquérito de “forjar provas” contra os 44 policiais militares presos por suposto envolvimento no caso. “A delegada apontou fatos que não existiam nos autos. Ela forjou localização geográfica nos mapas apresentados no processo”, disse.

Em resposta, promotores que acompanham o caso afirmam que a fala é “temerária e demonstra desconhecimento da prova acostada aos autos”. Os promotores classificam ainda a denúncia como “incompatível com a seriedade que deve pautar os debates no parlamento estadual”. Eles destacam que a denúncia foi recebida por um colégio de juízes.

“Asseguramos que a investigação foi desenvolvida pela Delegacia de Assuntos Internos da CGD com acompanhamento desta força-tarefa, com plena imparcialidade, isenção e rigor técnico, ao tempo em que lamentamos que se busque politizar a mais grave chacina da história do Ceará”, dizem os promotores.

“Injustiça”

Em seu discurso na Assembleia, Capitão Wagner destacou ainda recente decisão que liberou grupo criminoso conhecido como “Quadrilha dos Pipoca”, envolvida em assaltos a banco e carros-fortes no interior. “Essa quadrilha, que já matou três policiais, foi libertada por decisão do STF, mas nenhum juiz cearense teve coragem para soltar os 44 PMs”.

Em novembro do ano passado, o deputado chegou a acampar em frente ao 5º Batalhão da Polícia Militar em Fortaleza, em protesto contra a “injusta” prisão de policiais no caso.

A delegada Adriana Câmara, responsável pelo inquérito do caso, não quis comentar declarações de Wagner. Em nota, a Controladoria Geral de Disciplina (CGD) informou que investigação da Delegacia de Assuntos Internos (DAI) foi acompanhada pelo Ministério Público e respeitou todo o trâmite processual.

Chacina da Messejana

Os 44 policiais acusados de participarem na chacina tiveram prisão decretada por um colegiado de três juízes em agosto do ano passado. Segundo denúncia do Ministério Público do Estado (MP-CE), eles teriam participação no assassinato de onze pessoas na Chacina da Messejana, ocorrida na madrugada de 12 de novembro de 2015.

Em denúncia de 16 volumes, mais de cinco mil páginas e que ouviu mais de 33 testemunhas, o MP apontou indícios de execuções “sumárias e aleatórias”. Segundo o órgão, a chacina iniciou como retaliação ao assassinado do soldado Valtemberg Serpa, ocorrida na véspera. Diante do insucesso na localização de alvos, as vítimas passaram a ser escolhidas de forma aleatória.

Quase todas as vítimas tinham menos de 20 anos, tendo apenas duas elas passagens pela polícia – uma por acidente de trânsito e outra por não pagamento de pensão. O MP afirma ainda que existem provas suficientes para condenar os acusados. Entre as testemunhas de acusação, estão inclusive um sargento e um policial da PM.

Atuaram na investigação do caso os promotores Marcus Renan Plácido, Joseana França, Alice Iracema Aragão, Humberto Ibiapina, Rinaldo Janja e Felipe Diogo, assim como o coordenador do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), e o procurador-geral de Justiça do Ceará, Plácido Rios.

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Carlos Mazza

Repórter do núcleo de Conjuntura do O POVO. Jornalismo de dados, reportagens investigativas, bastidores da política cearense. carlosmazza@opovo.com.br / Twitter: @ccmazza

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