Presidente Jair Bolsonaro se manifesta sobre ataques no Ceará pela primeira vez (Foto: Divulgação)

Em sua primeira fala sobre a crise na segurança pública do Ceará, que vem sofrendo onda de ataques desde a noite da última quarta, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) disse que o ministro da Justiça Sergio Moro “foi muito rápido e eficaz para atender o estado cujo governador reeleito tem uma posição radical a nós”.

As declarações foram dadas durante cerimônia em Brasília.  Camilo Santana (PT), chefe do Executivo estadual, foi o primeiro governador a acionar a gestão Bolsonaro para resolver problema no setor da segurança.

Bolsonaro disse ainda que jamais fará “oposição ao povo de qualquer estado, e o povo do Ceará precisa nesse momento”.

Camilo entrou em contato com Moro ainda ontem, quando telefonou ao ministro para solicitar o envio de tropas federais, do Exército e da Força Nacional, para atuarem no Estado enquanto durar a série de atentados contra órgãos públicos e privados.

Até agora, 300 homens foram liberados pelo Ministério da Justiça para auxiliar as forças de segurança do Ceará. A chegada do contingente é estimada para hoje à noite.

De acordo com Bolsonaro, todas as medidas de ajuda ao Ceará já foram tomadas.

Sobre a demora de um dia para atender o pedido do governador petista, o presidente informou que “faltava por parte do governo do Ceará realmente se enquadrar, e havia ofício, informar, dar a real necessidade da presença da Força pela sua incapacidade de resolver o problema”.

Bolsonaro então acrescentou que “a Força Nacional já foi contactada, o plano de chamada já foi colocado em vigor e está na iminência de decolar para Fortaleza”.

Duas palavras chamam atenção nas respostas de Bolsonaro: para o presidente, Camilo tem uma posição “radical a nós”, o Governo Federal cujo presidente derrotou o candidato do partido do governador, Fernando Haddad.

A outra é: “incapacidade”. Segundo o pesselista, era importante que o Estado se declarasse incapaz de solucionar os conflitos antes de autorizar o envio das tropas.

Pode ser apenas questão formal, mas pode ser política também.

A ressalva feita por Bolsonaro de que jamais fará “oposição ao povo de qualquer estado” apenas realça um certo mal-estar que parece haver tanto por parte do Abolição, que precisou recorrer ao Planalto mais cedo do que esperava.

Quanto do próprio presidente, que tem de engolir a postura do governador adversário e fazer valer o que ele mesmo vinha repetindo desde a vitória nas urnas: é o presidente de todos os brasileiros.

Não há dúvida de que a pacificação no Ceará é mais importante do que qualquer divergência política, mas a atuação conjunta de Camilo e Bolsonaro para atacar a primeira crise dos novos governos já começa a apresentar seus ruídos.

Como escrevi ontem, esse é o primeiro grande teste da política de segurança implementada por Sergio Moro, que tem um carioca-cearense como auxiliar, o ex-candidato general Guilherme Theophilo.

Mas é também uma prova de fogo para Camilo, que criou uma secretaria pra cuidar da administração penitenciária e escalou um nome linha-duríssima para enfrentar o seu principal desafio na gestão – aquele que o petista custou a reconhecer no primeiro mandato e agora decidiu peitar.

O poder das facções é ameaça tanto para o governador quanto para Bolsonaro.

Se mesmo as organizações criminosas suspenderam suas rivalidades temporariamente para se contrapor a um inimigo comum, o Estado, os governos estadual e federal precisam fazer o mesmo: deixar diferenças de lado para agir conjuntamente.

Os primeiros sinais de Bolsonaro, no entanto, não dão total garantia de que isso será possível sem algum desgaste político.

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Henrique Araújo

Jornalista do Núcleo de Política do O POVO

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