Legenda: O Encontro Herança Nativa surgiu como desdobramento do Encontro Sesc Povos do Mar para fortalecer as identidades dos povos tradicionais (Foto: Davi Pinheiro)

No Ceará, o contingente de Povos e Comunidades Tradicionais abrange 43.143 indígenas de 15 etnias diferentes, de acordo com dados da PNAD 2020. Além disso, a população quilombola está presente em 49 comunidades certificadas pela Fundação Palmares e as famílias ciganas vivem em mais de 60 municípios, de acordo com Instituto Cigano do Brasil.

É para mostrar a cultura desses grupos étnicos, assim como a dos habitantes das serras e do Sertão, que o Sesc Ceará realiza há seis anos o Encontro Herança Nativa. Em 2020, o evento ocorre em edição virtual, de 11 a 15 de dezembro, no canal do Sesc Ceará no Youtube, através dos registros audiovisuais que mostram as populações em seus territórios.

Os vídeos abordam as tradições do semiárido cearense, revelando os os rabequeiros e sapateadores da região, assim como os costumes dos povos originários de Canindé, do Maciço de Baturité e da região dos Inhamuns. Do Sertão Central, foi filmada uma comunidade quilombola da Serra do Estêvão, em Quixadá. Do Cariri, aparecem os reisados e a xilogravura. De Sobral, foram gravadas as fazendas onde moram famílias ciganas. A história da Mestra da Cultura Dina Martins, vaqueira e aboiadora, também está contada em um dos vídeos do Herança Nativa.

Um ritual indígena com anciãos e anciãs das etnias do Ceará abre a programação nesta sexta-feira, 11, às 15 horas, com transmissão ao vivo. Os pajés e caciques fundadores do Herança Nativa se encontram para marcar o início do encontro, que neste ano será traduzido nos 27 vídeos sobre práticas socioculturais como artesanias, línguas nativas, encantos, cuidados e curas, danças, jogos e festejos.

Seis lives mostram atividades direto do Sesc Iparana Hotel Ecológico. Uma delas é o III Encontro das Loiceiras e Loiceiros, que ocorrerá no dia 14 de dezembro, às 14 horas, com transmissão ao vivo divulgando artesanias de barro típicas de cinco cidades cearenses: Caridade, Limoeiro do Norte, Icó, Independência e Cascavel.

“Cada vez mais os grupos tradicionais estão se apropriando das tecnologias para dialogar com o mundo todo. A gente viu que era possível construir um banco de imagens, um conjunto de conteúdos, e informações e nós poderíamos fazer isso dentro do Herança Nativa. Fomos visitando as comunidades e filmando esses repertórios. Dialogando, elas foram mostrando todas as dimensões de sua forma de organização e expressão na sociedade”, explica Paulo Leitão, consultor do Sesc Ceará.

O consultor explica que o Encontro Herança Nativa surgiu como desdobramento do Encontro Sesc Povos do Mar, para fortalecer as identidades dos povos tradicionais, na época ainda mais invisibilizados. Hoje, há representantes de mais de cinquenta municípios cearenses no grupo com expressões culturais diversas que se multiplicam a cada ano.

Outro importante reflexo da potência desta rede de articulação cultural é o estímulo ao resgate de tradições centenárias que vinham se extinguindo. “Tudo isso para nós é muito gratificante: ver que as comunidades todos os anos vem mais organizadas, com repertórios mais amplos, reconstituindo práticas que estavam em desuso”, afirma o consultor.