Segundo o professor J. Herculano Pires, a doutrina espírita é uma realidade histórica, um corpo doutrinário existente em livros. Então, em primeiro lugar, diremos ao leitor que o espiritismo é a doutrina codificada por Allan Kardec. Além de afirmar, porém, que o espiritismo é uma realidade histórica, uma doutrina existente em livros, Herculano assegurou que ela precisa ser estudada. Em segundo lugar, portanto, afirmaremos ao leitor que o espiritismo é doutrina filosófica de bases científicas e consequências morais religiosas.

Sergio Aleixo

[Aleixo, Sergio. O que é Espiritismo. Rio de Janeiro: Record: Nova Era, 2003, p. 23.]

Sábado passado, mais ou menos por volta das 18 horas, liguei a TV e sentei no sofá. Como sempre faço nessas ocasiões, peguei o controle remoto e fiquei passeando aleatoriamente pelos canais. Pois bem. Um dos canais mostrava uma cena em que uma professora anunciava aos alunos que a redação de um dos colegas fora premiada. Uma garota ergue o braço e diz que aquilo era “coisa de espiritismo”. A turma faz eco à observação da garota e uma pequena algazarra se cria na sala. A professora resolve interferir, saindo em defesa do autor da redação, alegando que não é nada daquilo que eles estão dizendo. O próprio aluno, porém, ergue-se da cadeira e diz que a colega tem razão, pois ele fora auxiliado por um espírito enquanto redigia o texto. Para surpresa da professora, o garoto propõe reescrevê-lo no ato, na lousa, promessa que, de fato, cumpre, deixando a mestra estupefata diante da turma.

Até então, eu não sabia de que filme eram aquelas cenas. O episódio, porém, me despertou suficiente interesse para que eu continuasse sintonizado no mesmo canal, atento à história que se desenrolava. Pouco depois descobri que a tal criança que escrevera a redação era ninguém menos que o mundialmente famoso médium brasileira Franscisco Cândido Xavier. Pois bem, não mudei mais de canal e acabei vendo o filme até o fim.

Enquanto alguns insólitos e controvertidos episódios da vida de Chico Xavier se sucediam na tela da TV, algumas ideias e reflexões começaram a insinuar em minha mente. Ali mesmo, enquanto via o filme, decidi que escreveria um texto para este blog tratando do assunto. Aliás, mais que isso, resolvi que introduziria no roteiro uma nova categoria, cujo título me veio no ato: Mundo espírita.

Tenho diversos livros sobre o espiritismo, inclusive o Evangelho segundo o espiritismo, escrito por Allan Kardec. Nunca, porém, me detive de forma mais acurada sobre o assunto. A bem da verdade, devo dizer que sempre fui um pouco refratário à doutrina espírita. Apesar disso, porém, sempre mantive um certo interesse pelo assunto, motivo pelo qual fui adquirindo alguns livros e dispondo-os na estante, aguardando o momento em que seriam lidos. Pois bem, este momento chegou, motivado pelo filme sobre o Chico Xavier e por este blog.

Desde que o pedagogo Hippolyte Denizard Rivail (Lyon, 3.10.1804-Paris, 31.3.1869), que se tornaria mundialmente conhecido por Allan Kardec, codificou a doutrina espírita, esta sempre esteve envolta em muitas controvérsias. O espiritismo lida com uma categoria de fenômenos que, por sua própria natureza, causam estranheza, motivo pelo qual são facilmente encarados pela maioria das pessoas com uma boa dose de ceticismo, especialmente se lhes desconhecem os fundamentos e as possíveis explicações. Não deixa de ser uma atitude preconceituosa e, por que não dizer, anticientífica, negar a possibilidade de certos fenômenos apenas porque eles não se enquadram nos referenciais que adotamos como visão de mundo. Investigá-los e averiguar-lhes os fundamentos teóricos é o mínimo que se pode fazer para que nos seja possível, enfim, chegar a um ponto de vista abalizado sobre o assunto.

Uma boa sugestão para quem pretende levar a cabo este objetivo é a leitura do livro  O que é Espiritismo,  escrito com maestria e grande domínio do assunto por Sergio Aleixo. O livro conta, ainda, com uma apresentação da jornalista e escritora Dora Incontri, atualmente uma das maiores pesquisadoras do assunto no Brasil. A leitura desse livro, iniciada domingo e já em fase de conclusão, tem sido para mim tão esclarecedora quando prazerosa.

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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