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Vasco Arruda

O lugar a ser encontrado está dentro de você mesmo. Aprendi um pouco, a respeito, no atletismo. O atleta que está em excelente forma tem um ponto de quietude dentro de si mesmo, e é ao redor disso, de um modo ou de outro, que sua ação se exerce. Se estiver todo projetado lá fora, no campo ou na pista, ele não conseguirá um desempenho adequado. Minha esposa é bailarina e diz que isso é verdade na dança, também. Existe um centro de quietude, interior, que deve ser conhecido e preservado. Quando você perde esse centro, entra em tensão e começa a cair aos pedaços.
Joseph Campbell
[Campbell, Joseph com Moyers, Bill; org. por Betty Sue Flowers. O poder do mito. Tradução de Carlos Felipe Moisés. – São Paulo: Palas Athena, 1990, p. 171.]

Vasco Arruda

Muitos buscam nas palavras religiosas, bíblicas ou não, o seu norte. Outros preferem provar que a psicanálise é uma ciência e assim sentir-se seguros com ela. Talvez todos possam sentir-se com a verdade, cada um de sua forma, cada um com sua ilusão, como escreveu Calderon de La Barca: a vida é um sonho.
Abrão Slavutzky
[Slavutzky, Abrão. A ilusão tem futuro. Em: Wondracek, Karin Heller Kepler (organizadora). O futuro e a ilusão: um embate com Freud sobre psicanálise e religião. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2003, Cap. 5, p. 118.]

Vasco Arruda

Somente foi dado compreender àquele que pôde experimentar. Na verdade, ainda que em certo sentido as experimentássemos entre nós, de maneira alguma nossas palavras, maculadas pelas coisas cotidianas e sem valor, estariam em condições de exprimir tantas maravilhas. E talvez o mistério teve que se manifestar na carne, porque não teria podido ser explicado em palavras (cf. Ecl 1,8). – Fale, portanto, o silêncio onde falta a palavra (cf. Sir 43,29), porque também uma coisa significada clama onde falta o sinal. (…) Será veraz e digno de fé quem tiver por testemunhas a natureza, a lei e a graça (cf. Jo 1,17).
Frei Tomás de Celano
[Fontes Franciscanas e Clarianas. Apresentação Sergio M. Dal Moro; tradução Celso Márcio Teixeira… [et. al.]. 2ª. ed. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. Frei Tomás de Celano, Segunda Vida de São Francisco , Cap. CLIV: A devoção à cruz; e um segredo oculto, p. 427.]

Vasco Arruda

A minha piedade vai toda para aquele que desperta no meio da grande noite patriarcal, convencido de que ainda tem por cima as estrelas de Deus, e de repente se sente em viagem. Proíbo terminantemente que o interroguem, porque sei muito bem que não há resposta que mitigue a sede. Aquele que interroga, o que em primeiro lugar procura é o abismo.
Antoine de Saint-Exupéry
[Saint-Exupéry, Antoine de. Cidadela. Tradução de Ruy Bello. – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982, p. 15.]

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Vasco Arruda

Contemplar em atitude de oração o Jesus da história em quem o cristão acredita que Deus estava vivendo humanamente é olhar com toda profundidade para as mais plenas possibilidades do ser humano. A ênfase da humanidade de Jesus, que é uma recuperação feita pela cristologia contemporânea, é a correção a uma superênfase dada à divindade de Cristo, e de uma maneira de se ver Cristo somente pela perspectiva de sua divindade. A teologia especulara sobre o que era apropriado a Deus e então pressupõe esses mesmos atributos em Jesus, eliminando efetivamente quase todos os vestígios de seu ser humano, em todo sentido verdadeiro da palavra. Esse Jesus não podia ficar doente, não podia crescer em santidade, tinha a previsão exata de cada evento e gozava da visão beatífica mesmo em sua condição terrena.
Estudos críticos das Escrituras distinguem uma perspectiva pós-ressurrecional por parte dos autores dos evangelhos. Precisamos distinguir, meditando sobre Jesus, esses elementos verdadeiros embora interpretativos, nos quais os primeiros cristãos tentaram conceituar e verbalizar suas extraordinárias experiências com essa pessoa. Se pudéssemos estar ao lado deles em seus encontros com Jesus, poderíamos facilmente apreciar a beleza das mitologias inspiradas que surgiram a partir do processo primário de pensamento tanto de Jesus quanto de seus primeiros discípulos, e que foram preservadas para nós nas preciosidades que compreendem o Novo Testamento. Ao mesmo tempo, se conseguirmos distinguir essas mitologias, elas não precisarão obscurecer a verdadeira humanidade de Jesus, nem o paradoxo que ele encarna.
Anne Brennan e Janice Brewi
[Brennan, Anne e Brew, Janice. Meia-idade e vida: oração e lazer, fontes de um novo dinamismo. 2ª. ed. Tradução Isa F. Leal Ferreira; revisão Ivo Storniolo. São Paulo: Paulus, 1991, p. 125. – (Col. Amor e psique).]

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Vasco Arruda

E lá continuávamos nós novamente na batalha, mais renovados e mais felizes, pois sabíamos que não estávamos sós. E assim, com o tempo, acabamos por aprender com a Mãe muitas coisas… Entre elas foi dizer algo muito especial: – “Maria, passa na frente!” Quando fazíamos isto, as batalhas eram vencidas, as portas trancadas se abriam, as pessoas certas surgiam no caminho para nos ajudar, os corações endurecidos à nossa frente amoleciam, o demônio corria embora, a coragem retornava! Não importava o que tínhamos a fazer, orávamos e dizíamos: “Maria, passa na frente!” porque Ela nos mostrou o poder extraordinário que há nesse pedido! É como achar a chave certa para a fechadura de uma porta trancada e ouvir o clique do abrir.
Denis e Suzel Bourgerie
[Bourgerie, Suzel e Denis. Maria, Passa na Frente! 37ª. ed. Campinas, SP: Edições Logos, s/d, p. 5.]

Vasco Arruda

Marcaram um dia, pois, com ele, e vieram em maior número encontrá-lo em seu alojamento. Ele lhes fez uma exposição, dando testemunho do Reino de Deus e procurando persuadi-los a respeito de Jesus, tanto pela Lei de Moisés quanto pelos Profetas. Isto, desde a manhã até a tarde. Uns se deixaram persuadir pelo que ele dizia; outros, porém, recusavam-se a crer. Estando assim discordantes entre si, eles se despediram, enquanto Paulo dizia uma só palavra: “Bem falou o Espírito Santo a vossos pais, por meio do Profeta Isaías, quando disse:
Vai ter com este povo e dize-lhe: em vão escutareis, pois não compreendereis; em vão olhareis, pois não vereis. É que o coração deste povo se endureceu: eles taparam os ouvidos e vendaram os olhos, para não verem com os olhos, nem ouvirem com os ouvidos, nem entenderem com o coração, para que não se convertam, e eu não os cure!
Ficai, pois, cientes: aos gentios é enviada esta salvação de Deus. E eles a ouvirão”.
Atos dos Apóstolos 28,23-28
[Bíblia de Jerusalém. Gorgulho, Gilberto da Silva; Storniolo, Ivo; Anderson, Ana Flora (Coord.). Tradução do texto em língua portuguesa diretamente dos originais. 4ª reimpressão. São Paulo: Paulus, 2006, p. 1953.]

Vasco Arruda

O discernimento espiritual é a chave de toda a oração. Assim o assinalou energicamente Inácio de Loyola; assim o destacaram depois muitos crentes. O discernimento continua sendo experiência pessoal, no sentido mais profundo deste termo: cada um deve excutar a voz de Deus e realizá-la, correspondendo a ela de maneira criativa.
Xavier Pikaza
[Pikaza, Xavier. Verbete: Oração. Em: Dicionário de Conceitos Fundamentais do Cristianismo. Dirigido por Casiano Floristán Samanes e Juan-José Tamayo-Acosta. Tradução Isabel Fontes Leal Ferreira e Ivone de Jesus Barreto. – São Paulo: Paulus, 1999, p. 545. – (Coleção dicionários).]

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Vasco Arruda

Naqueles dias, eu era um daqueles que desceram de Nazaré para ser batizado por João, nas águas do Jordão. Segundo o Evangelho de Marcos, em minha imersão, os céus se abriram, ví “um espírito sob a forma de uma pomba, descendo” e uma voz poderosa disse: “Você é o Meu filho amado e em ti Eu me sinto bem satisfeito.” Então, o Espírito me conduziu ao deserto, onde permaneci durante quarenta dias, e onde Satã veio me tentar.
Porquanto não diria que as palavras de Marcos sejam falsas, elas contêm muito exagero. E mais ainda as de Mateus, e Lucas, e João, que me atribuíram frases que nunca proferi, descrevendo-me como amável, quando eu estava pálido de ira. Eles escreveram muitos anos depois de minha partida, apenas repetindo o que escutaram de homens mais velhos. Muito velhos, mesmo. São histórias tão sem fundamento quanto um arbusto desprendido de suas raízes e que vagueia ao léu, tangido pelo vento.
Portanto, farei meu próprio relato. Aos que eventualmente perguntarem de que modo minhas palavras chegaram a esta página, dir-lhes-ei tratar-se de um pequeno milagre – meu evangelho, afinal, falará de milagres. Contudo, minha expectativa é chegar tão perto da verdade quanto possível. Marcos, Mateus, Lucas e João buscavam aumentar seu rebanho. E o mesmo vale para outros evangelhos, escritos por outros homens. Alguns desses escribas só falariam aos judeus que se prontificaram a me seguir após a minha morte, e alguns pregaram apenas para os gentios, que odiavam os judeus, embora tivessem fé em mim. Posto que cada um empenhava-se no fortalecimento da sua própria igreja, como poderiam não misturar o que era verdade com o que não era? Todavia, como de todas essas igrejas somente uma prevaleceu, e essa escolheu apenas quatro evangelhos, as demais foram condenadas por igualar “palavras imaculadas e sagradas” a “mentiras descaradas”.
Tivessem sido escolhidos quarenta, em vez de quatro, nem assim se daria conta da verdade, que pode estar conosco, num lugar, e enterrada em outro. Por conseguinte, o que vou contar não é uma história simples, nem sem surpresas, mas verdadeira, pelo menos considerando tudo aquilo de que me lembro.
Norman Mailer
[Mailer, Norman. O Evangelho Segundo o Filho. 3ª. ed. – Tradução de Marcos Aarão Reis e Valéria Rodrigues. Rio de Janeiro: Record, 1998, p. 7.]