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Vasco Arruda

Amor fati II: O banquete
Veio o dia dos Ázimos, quando devia ser imolada a páscoa. Jesus então enviou Pedro e João, dizendo: “Ide preparar-nos a páscoa para comermos”. Perguntaram-lhe: “Onde queres que a preparemos?” Respondeu-lhes: “Logo que entrardes na cidade, encontrareis um homem levando uma bilha de água. Segui-o até à casa em que ele entrar. Direis ao dono da casa: ´O Mestre te pergunta: onde está a sala em que comerei a páscoa com os meus discípulos?` E ele vos mostrará, no andar superior, uma grande sala, provida de almofadas; preparai ali”. Eles foram, acharam tudo como dissera Jesus, e prepararam a páscoa.
Quando chegou a hora, ele se pôs à mesa com seus apóstolos e disse-lhes: “Desejei ardentemente comer esta páscoa convosco antes de sofrer; pois eu vos digo que já não a comerei até que ela se cumpra no Reino de Deus”.
Então, tomando uma taça, deu graças e disse: “Tomai isto e reparti entre vós; pois eu vos digo que doravante não beberei do fruto da videira, até que venha o Reino de Deus”.
E tomou um pão, deu graças, partiu e deu-o a eles, dizendo: “Isto é o meu corpo que é dado por vós. Fazei isto em minha memória”. E, depois de comer, fez o mesmo com a taça, dizendo: “Essa taça é a Nova Aliança em meu sangue, que é derramado por vós”.
Lc 22,7-20
[Bíblia de Jerusalém. Gorgulho, Gilberto da Silva; Storniolo, Ivo; Anderson, Ana Flora (Coord.). Tradução do texto em língua portuguesa diretamente dos originais. 4ª reimpressão. São Paulo: Paulus, 2006, p. 1827]

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Vasco Arruda

Amor fati I: Getsêmani
Ele saiu e, como de costume, dirigiu-se ao monte das Oliveiras. Os discípulos o acompanharam. Chegando ao lugar, disse-lhes: “Orai para não entrardes em tentação”.
E afastou-se deles mais ou menos a um tiro de pedra, e, dobrando os joelhos, orava: “Pai, se queres, afasta de mim este cálice! Contudo, não a minha vontade, mas a tua seja feita!” Apareceu-lhe um anjo do céu, que o confortava. E, cheio de angústia, orava com mais insistência ainda, e o suor se lhe tornou semelhante a espessas gotas de sangue que caíam por terra.
Erguendo-se após a oração, veio para junto dos discípulos e encontrou-os adormecidos de tristeza. E disse-lhes: “Por que estais dormindo? Levantai-vos e orai, para que não entreis em tentação!”
Lc 22,39-46
[Bíblia de Jerusalém. Gorgulho, Gilberto da Silva; Storniolo, Ivo; Anderson, Ana Flora (Coord.). Tradução do texto em língua portuguesa diretamente dos originais. 4ª reimpressão. São Paulo: Paulus, 2006, p. 1829]

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Vasco Arruda

A liberdade de Jesus impressionou tanto os seus contemporâneos, a ponto de um fariseu elogiá-lo, dizendo: “Mestre, sabemos que és verdadeiro e que, de fato, ensinas o caminho de Deus. Não dás preferência a ninguém, pois não consideras o ser humano pelas aparências…” (Mc 12,14). Essa liberdade tem a sua fonte e está arraigada na união de Jesus com o Pai. Ele afirma que o Pai está n´Ele e Ele no Pai. Essa identificação confere-lhe autoridade para realizar a obra do Pai e assumir essa atitude de liberdade face ao poder religioso e político que deturpa a imagem de Deus (Jo 10,22-39).
Jesus não só se revela como um homem livre em seu modo de ser e agir, mas, ao mesmo tempo, assume uma atitude libertadora em relação às pessoas com as quais entra em contato. Ele é fautor de liberdade, tornando as pessoas livres. Liberta, antes de mais nada, de uma concepção mistificadora e deturpada de Deus. A religião muitas vezes foi usada como garantia de relações sociais injustas e para defender interesses de grupos. A visão religiosa servia para justificar privilégios. Nada oprime mais do que um deus opressor. Jesus vem libertar de um deus imaginário construído pela mão do ser humano e revelar a verdadeira face amorosa de Deus. A ternura divina revelada no agir de Jesus liberta de todos os temores que se possa ter em relação a Deus. As curas milagrosas de doentes, as refeições com publicanos e pecadores, a acolhida de prostitutas são expressões da ternura que libertam das condenações e discriminações fundadas na religião.
[Junges, José Roque. A Ética de Jesus e os Cristãos. In: Aquino, Marcelo Fernandes de (organização de). Jesus de Nazaré, profeta da liberdade e da esperança. – São Leopoldo: Ed. UNISINOS, 1999, p. 227.]

Vasco Arruda

Recebi, ontem, mensagem do prof. Carlo Tursi comunicando o lançamento do Blog do Movimento de Formação Cristã de Fortaleza. Parabenizo os organizadores do blog pela iniciativa que, seguramente, produzirá bons frutos. Segue, abaixo, a mensagem com o link de acesso ao blog:
Atenção, amig@s,
o Movimento em prol de uma Formação Cristã de Qualidade acaba de colocar on line seu blog. Confiram e divulguem artigos, notícias e eventos acerca de uma formação teológico-catequética que não adormece nem aliena as pessoas, mas as desperta e liberta para a ação transformadora no mundo de hoje. Sejamos tod@s corresponsáveis na construção desta ampla corrente de pensamento e ação! Uma outra forma de interpretar e viver o cristianismo é possível, longe dos afunilamentos clericais e reducionismos sacramentalistas, da glossolalia imbecilizante e indiferença social escandalosa. É necessário romper com o adestramento romano da Teologia, nos seminários e faculdades católicas, que desemboca numa visão juridicista e patrimonialista de Igreja e Pastoral. O Espírito sopra onde quer.
Abraços,
Carlo Tursi
Link de acesso ao blog: http://blogformacaocristafortaleza.blogspot.com/

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Vasco Arruda

Quem é Jesus para a comunidade joanina? É o “filho de José, de Nazaré” (Jo 1,45), aparentemente insignificante (1,46), vivendo a vida do profeta rejeitado. A comunidade lembra os “sinais” desse profeta, suas credenciais, que não foram reconhecidas (12,37). Se houve alguma “suspeita” de que ele fosse o Messias, isso não era entendido no sentido certo; não era entendido no sentido de um revelador do rosto de Deus, mas de um Messias nacional, um “salvador da pátria” (6,14). O próprio termo “Messias” ou “Cristo” não é muito importante para João. Mais importante é o título de “Filho do Homem”, que sugere a origem celeste e o papel de vencer as potências do mundo (Dn 7,13-14).
O mais importante, porém, é ver em Jesus o Filho, sem mais: o Filho de Deus que por amor se põe a serviço da vontade salvífica do Pai (Jo 3,16). Porque ele sabe que o Pai o ama, ele também ama os seus até o fim (Jo 13,1; 15,9-12), deixando-lhes seu exemplo e a missão de amor do mesmo jeito.
A situação de opressão, em vez de ser uma razão de desespero, torna-se assim um desafio ao amor fraterno e à resistência contra as forças sedutoras e dispersivas que têm o nome de Satanás, Diabo, Apolião… A contemplação da glória conferida ao Filho – Cordeiro imolado, entregando a vida pelos seus – e a presença de seu Espírito sustentam na comunidade a vida verdadeira e definitiva que possuem aqueles que trilham seu caminho.
Johan Konings
[Konings, Johan. Cristologia na Comunidade Joanina. In: Aquino, Marcelo Fernandes de (organização de). Jesus de Nazaré, profeta da liberdade e da esperança. – São Leopoldo: Ed. UNISINOS, 1999, p. 71.]

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Vasco Arruda

Jesus é a última, a mais aguda, (a mais definida) expressão da fidelidade de Deus testemunhada pela lei e pelos profetas. Ele é a PALAVRA que aclara todas as demais.
A penetração e sua morada na ambiguidade humana e nas mais densas trevas são fidelidade de Deus. (E apesar dessa penetração, a sua visão é de integral obediência ao Deus fiel).
Ele se põe como pecador perante os pecadores; submete-se inteiramente ao juízo a que o mundo está sujeito. Ele se situa lá onde só Deus pode estar presente: na indagação que se faça a respeito de sua existência. Toma a forma de servo. Na morte, vai até a cruz.
No apogeu, no píncaro de sua trajetória terrena é ele uma grandeza puramente negativa; de forma nenhuma é genial; de maneira nenhuma é portador de forças psíquicas, quer manifetsas, quer ocultas.
Não é nem herói, nem líder, nem poeta, nem pensador, e nesta absoluta negação (meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?) ele apresenta o impossível “mais”.
Ele sacrifica a outro, invisível, todas as qualidades e possibilidades humanas que sejam imagináveis: genialidade, forças psíquicas, heroísmo, estética, filosofia.
Karl Barth
[Barth, Karl. Carta aos Romanos. De Karl Barth por Koller Anders, segundo a quinta edição alemã (impressão de 1967). Tradução Lindolfo Anders; revisão Anisio Justino. São Paulo: Fonte Editorial Ltda., 2005, p. 146.]

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Vasco Arruda

Sendo o orixá Iemanjá considerado arquétipo na etnia iorubá, tendo em sua origem a função de Mãe das águas doces, dado o seu povo viver às margens do rio Obá, com o transporte dos negros para o Brasil, em maior número para a Bahia, passaram a viver na orla marítima, tornando-se, mais tarde, pescadores. O mar passou a ser para eles a grande Mãe e a figura de Iemanjá, e, em homenagem a esta, o bonito ritual marítimo das procissões com embarcações ornamentadas, as flores lançadas ao mar, a entrada nas águas, os votos etc. Ao mesmo tempo, presidindo a frota engalanada, o barco-chefe, enfeitadíssimo, conduzindo o andor com a imagem de Nossa Senhora da Conceição, aclamada com cânticos da Igreja, aplausos e fogos. Esse comportamento popularmente espontâneo é o que leva muitos antropólogos e estudiosos a tecerem infinitas explicações, os escritores a exporem seus conceitos e a imaginação popular a criar lendárias fantasias e saborosas interpretações.
Elias Leite
[Leite, Elias. Maria e Iemanjá no sincretismo afro-brasiuleiro (simbiose e arquétipo). São Paulo: Editora Ave-Maria, 2003, p. 35.]

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Vasco Arruda

Sim, senhor Cônego, auguro-lhe uma feliz quaresma, da mesma maneira que o senhor a deseja a mim. Existe tanta coisa a expiar, há tantas coisas a pedir. E creio que, para atender a todas essas necessidades, precisamos transformar-nos numa oração contínua e amar intensamente.
Elisabete da Trindade
[Trindade, Elisabete da, Irmã. Carmelita Descalça: obras completas. Tradução autêntica dos originais por Attilio Cancian. – Petrópolis, RJ: Vozes, 1993, Carta ao Sr. Cônego Angles, p. 203.]

Vasco Arruda

– Ora, diga-me; não crê agora que haja uma Providência?
– Sempre acreditei.
– Não minta; se acreditasse não teria recorrido ao suicídio.
– Tem razão, coronel; dir-lhe-ei até: eu era um pouco de lodo, hoje sinto-me pérola.
– Comprendeu-me bem; eu não queria aludir à fortuna que veio encontrar aqui, mas a essa reforma de si mesmo, a essa renovação moral, que obteve com este ar e na contemplação daquela formosa Celestina.
Machado de Assis
[Assis, Machado de. Obra completa em quatro volumes: volume 2. Organização Aluizio Leite Neto, Ana Lima Cecilio, Heloisa Jahn. – 2ª. ed. – Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2008. v. – (Biblioteca luso-brasileira. Série brasileira. O anjo Rafael. p. 941ss.]