“Dorme em paz, ó Jesus!” é um trecho da canção Noite feliz. Cantada há quase duzentos anos por milhões de pessoas, em várias línguas e em todo o mundo. A canção é belíssima, composição Austríaca, musicada por Franz Gruber.
Abstraindo-se do clima piedoso e eufórico do Natal, será que diante da manjedoura poderíamos cantar para o menino-Deus: “Dorme em paz, ó Jesus!”? Vendo-o envolto às palhas, em completa pobreza, baforado pelo hálito de animais, num ambiente fétido, seríamos tão insensíveis de desejar àquela criança que dormisse em paz sem que nada fizéssemos por Ele.
Que paz é esta que se deseja ao menino Jesus? Seria a paz que se costuma felicitar aos pobres, aos necessitados e moribundos com os quais cruzamos diariamente? A rotina, a correria do dia-a-dia, o afã para cumprir nossos planos pode nos fazer indiferentes àqueles que sofrem.
Cantar “Dorme em paz, ó Jesus!” pode corresponder ao um“fique em paz”,semelhante ao cumprimento vazio que acompanha a doação de alguma esmola, apenas para desencargo de consciência. A expressão poderia ser facilmente substituída por “deixe-me em paz, ó Jesus”, “deixe-me em paz, tu que sofres”.
Mas o Natal é envolvido de um clima magnífico de solidariedade e não podemos desperdiçar a oportunidade de crescer na fé, na esperança e na caridade; de sermos melhores; de ousarmos o amor, de ajudarmos o outro e não restringir nossa solidariedade ao mês de dezembro.
Assim, diante da manjedoura do Menino e dos inúmeros pobres que nos cercam poderíamos entoar uma canção que trouxesse esperança e votos de verdadeira Paz, aquela que se manifesta no Amor em atos, em todos os meses do ano.
Esse artigo foi escrito em 2008 e publicado na editoria Opinião do Jornal O Povo, daquele ano. Nesta postagem ele foi reformulado.