Em tempos de árduo combate à exploração infantil chega a ser chocante a possibilidade de indicação do filme “cuties“, no Brasil traduzido para “engraçadinhas”, pela Academia para concorrer ao Oscar, a maior premiação do cinema mundial, na categoria de melhor filme estrangeiro.
O portal epipoca explica o impasse que pode trazer o filme para a lista de indicados. “Quando o comitê de seleção do Oscar da França fez sua lista de finalistas na semana passada, Cuties foi eliminado na lista de cinco filmes do país que vão concorrer à categoria de Melhor Longa-Metragem Internacional segundo o site Deadline, porém uma nova comissão se reunirá na próxima semana para definir se vale a pena reincluir o filme que tem aprovação de 87% dos críticos no Rotten Tomatoes, e começou o seu caminho de ascensão no início do ano durante o festival de Sundance”.
O filme em questão rendeu uma tsunami de críticas a Netflix, além de várias campanhas de boicote ao streaming e à produção, isto porquê o longa apresenta imagens, consideradas por muitos, como hiperssexualização infantil. Somente a plataforma CitizenGO coletou 300 mil assinaturas contrárias ao filme. O calhamaço de papéis com as subscrições de pessoas de todo o mundo foram enviadas pelos correios para a Netflix.
Cuties, o filme controverso da Netflix
Tão controverso é o filme que a própria plataforma se obrigou a pedir desculpas, mediante a repercussão negativa da propaganda de lançamento de Cuties. “Pedimos perdão pela arte inapropriada que usamos para o filme ‘Cuties’. Foi errado, e a arte não representava corretamente o conteúdo deste filme francês que venceu um prêmio em Sundance”, disse o porta-voz do streaming na ocasião.
Coreografias eróticas e a cena de uma criança sugerindo o registro e envio de um nudes, feito em enquadramento perturbador para uma mente sã, conforme relatos, são algumas das cenas que por si só deveriam ganhar a ojeriza do público, especialmente da opinião pública, o que ficou longe de acontecer. No máximo, emitem uma crítica cheia de cuidados para não exporem os responsáveis pela película. Ou, pior, validam o conteúdo indicando-o para uma premiação internacional, como a feita pela Academia do Oscar.
Roling Stones critica Cuties (“engraçadinhas”)
A Revista Roling Stones, conhecida pelo teor progressista de suas pautas, foi uma das poucas a publicarem uma crítica mais severa ao filme. “Apesar de justificadas pelo contexto, algumas cenas ultrapassam a linha tênue entre crítica e reprodução da erotização infantil. Enquadramentos especialmente problemáticos, até constrangedores, se repetem com frequência desnecessária ao roteiro, na ânsia de esfregar na cara da audiência o tamanho minúsculo dos shorts e apertados das crianças, as barrigas expostas e as posições inadequadas com closes de cima para baixo, foco nas nádegas ou interação com a câmera em imitações perfeitas – e perturbadoras – de adultas sedutoras. A necessidade da reafirmação da sexualização precoce das garotas chega a ser cansativa”, lê-se na matéria.
Defensores do filme
Defensores do filme querem mirar as críticas apenas no cartaz da propaganda, quando na verdade a peça é apenas um recorte das muitas cenas das crianças apresentadas de forma adultizadas. Propagam que o filme é, na verdade, uma crítica à hiperssexualização das crianças. Ora vejam. Querem criticar a erotização das crianças apresentando em um filme cenas de crianças…Erotizadas…
Estatuto da Criança e do Adolescente
Só pela descrição acima e baseado no Estatuto da Criança e Adolescente que vigora no país – tão aclamados por militantes que agora se calam – o tal filme deveria ter sido excluído da plataforma , pelo menos nestas fronteiras. Mas seria sonhar demais já que vivemos uma cultura de cancelamento seletivo onde classificam o certo de errado e o contrário também.