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Vasco Arruda

Evidentemente Jesus existiu – assim como Ulisses e Zaratustra, e pouco importa saber se viveram fisicamente, em carne e osso, numa época precisa num lugar identificável. A existência de Jesus não é de modo nenhum comprovada historicamente. Nenhum documento contemporâneo do acontecimento, nenhuma prova arqueológica, nada de certo permite concluir hoje pela verdade de uma presença efetiva na articulação dos dois mundos abolindo um, nomeando o outro.
Não há túmulo, não há sudário, não há arquivos, com exceção de um sepulcro inventado em 325 por santa Helena, mãe de Constantino, muito dotada, pois também se deve a ela a descoberta do Gólgota e a do titulus, pedaço de madeira que traz o motivo da condenação. Um pedaço de tecido que a datação por carbono 14 atesta datar do século XIII de nossa era e que só um milagre poderia fazer com que envolvesse o corpo de Cristo mais de mil anos antes do cadáver putativo! Finalmente, três ou quatro vagas referências muito imprecisas em textos antigos – Flávio Josefo, Suetônio e Tácito -, certamente, mas em cópias feitas alguns séculos depois da suposta crucificação de Jesus e principalmente bem depois do sucesso de seus turiferários…
(…)
Quem é o autor de Jesus? Marcos. O evangelista Marcos, primeiro autor do relato das aventuras maravilhosas do denominado Jesus. Provável acompanhante de Paulo de Tarso em seu périplo missionário, Marcos redige seu texto por volta de 70. Nada prova que ele tenha conhecido Jesus em pessoa, é óbvio! Um contato franco e claro teria sido visível e legível no texto. Mas não se convive com uma ficção… Apenas se credita a ela uma existência à maneira do espectador de miragem no deserto que acredita na verdade e na realidade da palmeira e do oásis vislumbrados no calor abrasador. O evangelista conta então na incandescência histérica da época a ficção sobre a qual afirma toda a verdade, de boa-fé.
Michel Onfray
[Onfray, Michel. Tratado de ateologia: física da metafísica. Tradução Monica Stahel. – São Paulo: WMF Martins Fontes, 2007, p. 97 e 103]

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Vasco Arruda

O Concílio Ecumênico Vaticano II afirma que “Maria avançou em peregrinação de fé” (Lumen Gentium, VIII, 58). Embora fosse toda de Deus na santidade de seu ser e na abertura de sua alma, mesmo depois de ter sido atingida pela graça de intimidade com o Filho e com o Espírito Santo, ela crescia na compreensão da verdade da fé. A compreensão progressiva incluía tanto o mistério e a missão de seu Filho quanto sua própria missão de mãe e de colaboradora. Maria ignorava as consequências de seu sim generoso. Apenas conhecia o essencial: seu filho era Filho de Deus e Salvador. Em consonância, as Escrituras dão a entender o conhecimento de Maria, de claridade em claridade, na condição de peregrina na fé.
Dom Edson de Castro Homem
[Homem, Dom Edson de Castro. Maria da nossa fé. São Paulo: Paulinas, 2007, p. 33. – (Coleção arte e mensagem)]

Vasco Arruda

E o Espírito se apressou até ele e o despertou. Deu a mão àquele que estava deitado inerte no solo, colocou-o firme nos seus pés, pois ele ainda não havia se erguido. Ele lhes deu meios de ter o conhecimento do Pai e a revelação de seu Filho. (…) Ele inspirou-os com aquilo que está na mente, enquanto fazia sua vontade.
O Evangelho da Verdade
[Apócrifos e Pseudo-epígrafos da Bíblia. Organização Eduardo Proença. Tradução Claudio J. A. Rodrigues. São Paulo: Fonte Editorial Ltda., 2005, p. 630]

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Vasco Arruda

Tinha concluído minhas orações matinais e me postara diante do computador quando um odor forte inundou a biblioteca. Aquele cheiro não me era estranho, embora eu não conseguisse, de imediato, identifica-lo. O móbile dependurado na janela começou a tilintar. Há alguns dias, por indicação de Dom Cristiano, eu adquirira um novo móbile e, conforme sua sugestão, pendurara na janela da biblioteca. O odor se tornou mais forte, bem mais forte. “Alecrim!”, exclamei com meus botões. Isso mesmo, era essência de alecrim o odor que recendia na biblioteca.

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Vasco Arruda

Peregrinação é o tipo de jornada que estabelece a diferença entre o atento e o negligente, entre o banal e o inspirado. Essa diferença pode ser sutil ou dramática; por definição, ela é fundamental. Significa estar alerta para a ocasião, em que tudo o que se faz necessário numa viagem a um lugar remoto é tão-somente deixar-se perder a si próprio, e estar atento à ocasião, em que tudo o que é preciso é uma jornada a um lugar sagrado, com todos os seus aspectos gloriosos e temíveis para o encontro consigo mesmo. Desde o mais remoto peregrino humano, a pergunta mais desafiadora tem sido: como viajar de modo mais sábio, mais frutífero e mais nobre? Como podemos mobilizar a imaginação e animar nosso coração de forma que possamos, em nossas jornadas especiais, “ver em toda a parte do mundo a inevitável expressão do conceito de infinito”, nas palavras de Louis Pasteur; ou perceber, com Thoreau, “a divina energia em toda a parte?” Ou lembrando, como Evan Connell, de advertir os viajantes medievais: “Passe ao largo daquilo que não ama”.
Phil Cosineau
[Cousineau, Phil. A arte da peregrinação: para o viajante em busca do que lhe é sagrado. Tradução de Luiz Carlos Lisboa. São Paulo: Ágora, 1999, p. 23]

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Vasco Arruda

A oração fervorosa do justo tem grande poder. Assim, Elias que era homem semelhante a nós, orou com insistência para que não chovesse, e não houve chuva na terra durante três anos e seis meses. Em seguida, tornou a orar e o céu deu sua chuva e a terra voltou a produzir seu fruto.
Epístola de São Tiago 5, 16b-18
[Bíblia de Jerusalém. Gorgulho, Gilberto da Silva; Storniolo, Ivo; Anderson, Ana Flora (Coord.). Tradução do texto em língua portuguesa diretamente dos originais. 4ª reimpressão. São Paulo: Paulus, 2006, p. 2112]

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Vasco Arruda

Jesus não pode pensar em Deus sem pensar em seu projeto de transformar o mundo. Nunca separa Deus de seu reino. Não o contempla fechado em seu próprio mundo, isolado dos problemas das pessoas; sente-o comprometido em humanizar a vida. Os sacerdotes de Jerusalém o vinculam ao sistema cultual do templo; os setores fariseus o consideram fundamento e garantia da lei que rege Israel; os essênios de Qumram o experimentam como inspirador de sua vida pura no deserto. Jesus o sente como a presença de um Pai bom que está se introduzindo no mundo para humanizar a vida. Por isso, para Jesus, o lugar privilegiado para captar Deus não é o culto, mas lá onde se vai tornando realidade seu reino de justiça entre os homens. Jesus capta Deus no meio da vida e o capta como presença acolhedora para os excluídos, como força de cura para os enfermos, como perdão gratuito para os culpados, como esperança para os esmagados pela vida.
José Antonio Pagola
[Pagola, José Antonio. Jesus: aproximação histórica. Tradução de Gentil Avelino Titton. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2010, p. 387]

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Vasco Arruda

A visitação de Maria é uma visita de amizade e serviço. Encontro cheio de mistério e da alegria de Deus. Porque – e a vida de Maria nos ensina a cada instante – os grandes mistérios de Deus se realizam através da banalidade quotidiana de toda a vida humana. Porque Maria leva em seu corpo Jesus (que ela concebeu em seu coração e em seu corpo), a visita que ela faz a sua prima toma um novo sentido. A alegria que a inunda é a alegria dos tempos messiânicos, essa alegria na qual os cristãos celebrarão mais tarde o festim eucarístico, a alegria que encherá a terra por ocasião da segunda vinda de Cristo.
Irmão Marie Leblanc
[Irmão Marie Leblanc. O dia-a-dia de Maria. Tradução de José Joaquim Sobral. São Paulo: Editora Ave-Maria, 2005, p. 31. (Série Virgem Maria; 7)]

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Vasco Arruda

Sofre alguém dentre vós um contratempo? Recorra à oração. Está alguém alegre? Cante. Alguém dentre vós está doente? Mande chamar os presbíteros da Igreja para que orem sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. A oração da fé salvará o doente e o Senhor o porá de pé; e se tiver cometido pecados, estes lhe serão perdoados. Confessai, pois, uns aos outros, vossos pecados e orai uns pelos outros, para que sejais curados.
Epístola de São Tiago 5,13-16a
[Bíblia de Jerusalém. Gorgulho, Gilberto da Silva; Storniolo, Ivo; Anderson, Ana Flora (Coord.). Tradução do texto em língua portuguesa diretamente dos originais. 4ª reimpressão. São Paulo: Paulus, 2006, p. 2112]

Vasco Arruda

Agostinho foi professor de retórica; é dotado de sutil intuição psicológica, de um poderoso fascínio e de uma excepcional capacidade de domínio de si e do público; de uma cultura teológica vasta e profunda; tem um zelo pastoral altíssimo e íntima familiaridade com seu público. Dados esses pressupostos, compreende-se que para o maduro Agostinho é suficiente como preparação a oração e um pouco de reflexão antes da pregação. (…) A pregação frequente (como bispo prega uma vez por dia e, às vezes, ainda mais), seu temperamento nervoso e sua inteligência exuberante mal o predisporiam a uma preparação prolongada de seus sermões. A impressão que nos causa a leitura de seus discursos é exatamente a que expressamos acima; acrescente-se a isso que a relação constante e íntima com o mestre interior é fonte inexaurível de pregação, tanto mais que Agostinho frequentemente muda seus discursos em oração dirigida a Deus.
Ottorino Pasquato
[Pasquato, Ottorino. Verbete: Santo Agostinho. Em: Sodi, Manlio e Triacca, Achille M. (orgs.) com a colaboração de 195 peritos. Dicionário de Homilética. Apresentação de S. Emª. o Cardeal Silvano Piovanelli, Arcebispo de Florença; prefácio de Sergio Zavoli, Jornalista e escritor; tradução Orlando Soares Moreira e Silvana Cobucci Leite. São Paulo: Paulus: Loyola, 2010, p. 24.]