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Vasco Arruda

Europa, Espanha, Barcelona, 09/10/1861, 10h da manhã. Local, data e horário onde a inquisição, dita santa durante a Idade Média, promoveria o seu último ato. Ali 300 obras espíritas foram expostas e queimadas, naquele pátio onde os criminosos promoviam o seu suspiro de vida, condenados à execução sumária. A época já não permitia que pessoas
fossem queimadas, como tantas o foram simplesmente por se oporem ao pensamento religioso vigente e considerado universal. O principal réu do processo, Allan Kardec, poupado pela evolução da civilização sobre a barbárie, denominou aquele fato de Auto de Fé de Barcelona e exortou aos espíritas de todo o mundo que doravante festejassem esse dia como
uma data de alegria e vitória da liberdade do pensamento. Na edição da Revista Espírita de novembro/1861 assevera em meio ao artigo: “Podem-se queimar os livros, mas não se queimam as ideias; as chamas das fogueiras as superexcitam em lugar de abafá-las. As ideias,
aliás, estão no ar, e não há Pirineus bastante altos para detê-las; e quando uma ideia é grande e generosa, ela encontra milhares de peitos prontos para aspirá-la”.
Terminada a sessão de labaredas das obras espíritas, o público ali presente, centenas de pessoas, mergulharam nas cinzas dos livros, enquanto a turba do clero se retirava sob os apupos de “abaixo a inquisição”, e retiravam restos das obras apenas parcialmente queimadas.
Kardec recebeu parte de O Livro dos Espíritos que sobrevivera ao fogo e guardou como peça de museu, uma representação ao poder da verdade ante o fogo covarde da ignorância.
Curiosamente, mas não por acaso, aquela obra que resistira em parte ao fogo, desponta nas salas do cinema nacional como a grande homenageada, 150 anos depois, com o título O Filme dos Espíritos. Sob a frase “essa obra mudou a minha vida”, O Livro dos Espíritos é o personagem principal de uma trama humana comum, igual a tantas tramas que sabemos ocorrerem mundo afora. Alguém que perdeu entes queridos levados pela morte, perdeu a direção da vida por se desviar pelo vício do álcool, sofreu demissão do emprego, sentiu-se fragilizado o suficiente para encarar a vida e pensou em matar-se. O Livro dos Espíritos apareceu em sua vida e o salvou do caos. Como se não bastasse o enredo em si mesmo, que poderia ser testemunhado por milhares de pessoas em torno do mundo, em todos os rincões nos quais as obras espíritas simplesmente salvam pessoas da loucura e do suicídio, parte da renda das exibições vão ser aplicadas à Fundação André Luiz, responsável por milhares de portadores de doenças psiquiátricas.
O Livro dos Espíritos, sobrevivente ao Auto de Fé de Barcelona, mentor intelectual e espiritual de Allan Kardec, Léon Denis, Camille Flamarion, William Crookes, Ernesto Bozzano, Chico Xavier, Divaldo Pereira Franco, Herculano Pires, Leopoldo Machado, Vianna de Carvalho, Bezerra de Menezes, entre tantos outros, é uma história de vitória do mundo espiritual que se contrapôs à cegueira.
O dia 09 de outubro é dia de comemorar. Em plena esplanada da cidade de Barcelona a insensatez foi derrotada, foi a última vez na historia da humanidade em que a inquisição intentou contra a vida e liberdade de expressão… E dessa vez perdeu. A verdade prevaleceu.
Editorial do dia 09/10/2011 do programa ANTENA ESPÍRITA

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Vasco Arruda

Todos sabem que a imagem de Nossa Senhora Aparecida foi encontrada por três pescadores no Rio Paraíba, em 1717. Além de seus nomes, entretanto, nada se conhece sobre aqueles homens. O documento que registra o fato foi assinado em 1757 pelo vigário João de Morais e Aguiar, sob o título “Notícias da Aparição da Imagem da Senhora”. Ele conta que tudo começou quando o governador da capitania passou pela vila de Guaratinguetá e sentiu vontade de comer peixe:
“Entre muitos, foram a pescar Domingos Martins Garcia, João Alves e Felipe Pedroso, em suas canoas. E principiando a lançar suas redes no porto de José Correa Leite, continuaram até o porto de Itaguaçu… sem tirar peixe algum”.
Que homens eram aqueles? Teriam sido fidalgos ou diletantes donos de terra que pescavam para se divertir? Ou seriam gente simples que tentava sobreviver em um dos lugares mais pobres da colônia? De qualquer modo, foram eles os responsáveis pela origem daquilo que é, hoje em dia, o mais importante fenômeno de religiosidade popular no país – o culto à Padroeira do Brasil:
“E lançando neste porto João Alves a sua rede de rasto, tirou o corpo da Senhora sem cabeça. Lançando mais abaixo outra vez a rede, tirou a cabeça da mesma Senhora, não se sabendo nunca quem ali a lançasse”.
Luciano Ramos
[Ramos, Luciano. Aparecida: Senhora dos brasileiros: a história de uma devoção na origem de um povo. – São Paulo: Paulinas, 2004, p. 7.]

Vasco Arruda

Mas a mulher que sofria de hemorragia havia doze anos tem uma tal confiança no poder de cura dele que, ao se aproximar silenciosamente por detrás dele, tocou-lhe com discrição a franja da veste (cf. Lc 8,43-44). E Jesus o percebe. Ele conhece a psique humana, seus dramas, suas angústias, suas prisões e procura sarar, encorajar, curar, libertar.
Angelo Amato
[Amato, Angelo. Verbete: Jesus Cristo. Em: Sodi, Manlio e Triacca, Achille M. (orgs.) com a colaboração de 195 peritos. Dicionário de Homilética. Apresentação de S. Emª. o Cardeal Silvano Piovanelli, Arcebispo de Florença; prefácio de Sergio Zavoli, Jornalista e escritor; tradução Orlando Soares Moreira e Silvana Cobucci Leite. São Paulo: Paulus: Loyola, 2010, p. 843.]

Vasco Arruda

Haverá algum entre vós que acredita poder poupar-se o caminho? Poder eximir-se astuciosamente do sofrimento de Cristo? Eu digo: este se ilude para seu próprio prejuízo. Ele se deita sobre pregos e fogo. Do caminho de Cristo ninguém pode ser poupado, pois este caminho conduz ao que virá. Vós todos deveis tornar-vos Cristos.
Vós não superareis a velha doutrina fazendo menos, mas fazendo mais. Cada passo para mais perto de minha alma estimula o riso de deboche de meus demônios, aqueles bisbilhoteiros e envenenadores covardes. Para eles era fácil zombar, pois eu tinha coisas estranhas a fazer.
C. G. Jung
[Jung, C. G. O Livro Vermelho: Liber Novus. Editado por Sonu Shamdasani; prefácio de Ulrich Hoerni; tradução: Liber Novus, Edgar Orth; introdução, Gentil A. Titton e Gustavo Barcellos; revisão da tradução, Walter Boechat. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2010, p. 234.]

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Vasco Arruda

(…) o argumento de Tomás de Aquino em favor da revelação é bastante racionalista; e, por outro lado, claramente democrático e popular. Esse argumento nada tem contra a razão. Ao contrário, parece inclinado a admitir que poderíamos alcançar a verdade através de um processo racional, se fôssemos suficientemente racionais; e também se continuássemos racionais durante o tempo necessário para isso. Na verdade, algo de seu caráter, que em outro lugar chamei de otimismo, e para o qual não conheço outro termo mais próximo, levou-o antes a exagerar o grau até o qual todos os homens acabariam por ouvir a voz da razão. Em suas controvérsias, São Tomás sempre supõe que os homens vão ouvir a voz da razão. Isto é, ele acredita firmemente que é possível convencê-los por meio da argumentação, quando eles conseguem acompanhá-la até o fim. Só que seu senso comum lhe disse ainda que a argumentação não termina nunca. Eu poderia convencer um homem de que a matéria como origem da mente é algo bem insensato se ele e eu gostássemos muito um do outro, e discutíssemos acaloradamente um com o outro todas as noites durante quarenta anos. Mas, bem antes de ele se convencer, já no leito de morte, teriam nascido mil outros materialistas, e ninguém seria capaz de explicar tudo a todos. São Tomás julga que a alma de todas as pessoas comuns que trabalham duro e têm uma mente não sofisticada é tão importante como a alma dos pensadores e dos que se dedicam à busca da verdade; e pergunta como todas essas pessoas poderiam encontrar tempo para a quantidade de raciocínios necessária para a descoberta da verdade. Todo o tom da passagem mostra tanto o respeito pela pesquisa científica como uma forte simpatia pelo homem comum. Seu argumento em favor da revelação não é um argumento contra a razão, e sim a favor da revelação. A conclusão que ele tira disso é que os homens têm de receber as verdades mais elevadas de maneira miraculosa, pois do contrário a maioria não as receberia. Seus argumentos são racionais e naturais, mas suas deduções são todas favoráveis ao sobrenatural; e, como é comum no caso de sua argumentação, não é fácil encontrar nenhuma dedução a não ser na própria dedução que ele faz. E, quando chegamos lá, descobrimos que é algo tão simples quanto o próprio São Francisco teria desejado que fosse: a mensagem vinda do céu, a história contada a partir do céu, o conto de fadas que na realidade é verdadeiro.
G. K. Chesterton
[Chesterton, G. K. São Tomás de Aquino: as complexidades da razão. In: Chesterton, G. K. São Tomás de Aquino e São Francisco de Assis. Tradução Adail Ubirajara Sobral / Maria Stela Gonçalves. – Rio de Janeiro: Ediouro, 2009, p. 208.]

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Vasco Arruda

O caminho da história tende à divinização do homem; esta, preparada pela Encarnação de Deus, decretada desde o início como fundamento de todas as coisas e historicamente completada na plenitude dos tempos, terá como termo a restauração da semelhança divina no homem, a deificação do homem. Esta, atualizada com a caridade; de fato, por meio da caridade a vontade do homem se assimila à de Deus e faz uma só coisa com ela…
Ora, esta assimilação da vontade humana à vontade divina é antes de tudo realizada em Cristo. Nele as duas vontades existem distintamente; mas a vontade humana, fisicamente distinta da vontade divina, é inteiramente subordinada a esta até o ponto de fazer moralmente uma só coisa com ela…
São Máximo, o Confessor
[Citado em: Sgarbossa, Mario. Os santos e os beatos da Igreja do Ocidente e do Oriente: com uma antologia de escritos espirituais. Tradução Armando Braio Ara. – São Paulo: Paulinas, 2003, p. 360.]

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Vasco Arruda

A criação da palavra “mariologia” coube ao siciliano Plácido Nigido, que usando o nome do seu irmão Nicolau publicou em Palermo, no ano de 1602, a Sumae sacrae marialogiae pars prima. Também Nigido tem consciência de que é inovador (“primus sine duce”), que se distingue dos outros teólogos, já que propõe “um tratado distinto e separado sobre a bem-aventurada Virgem Maria”.
Stefano De Fiores
[Fiores, Stefano de. Mariologia-Marialogia, p. 850. In: Dicionário de Mariologia. Dirigido por Stefano De Fiores e Salvatore Meo; [Tradutores Álvaro A. Cunha, Honório Dalbosco, Isabel F. L. Ferreira. – São Paulo: Paulus, 1995. – (Dicionários)

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Vasco Arruda

Os que buscam a felicidade nas rutilâncias magnéticas do ouro, na volubilidade espetaculosa da glória, no deslumbramento indizível do poder, nas iníquas mundanidades corruptoras, se frustram e se decepcionam. O homem sábio demanda o prazer que não desfalece, que transfigura, que imaterializa, que deifica o homem – o prazer intelectual, o prazer de descobrir verdades novas no domínio da ciência, das letras e das artes, o prazer de dar à sua razão privilegiada a maior soma possível de luz criadora. Como não somos uma corporação de sábios, devemos procurar ser uma bela agremiação de estudiosos a ver nas manifestações da inteligência, nas criações literárias, nas formulações poéticas, a mais sublime conquista do espírito humano.
Seridião Correia Montenegro
[Discurso de posse como Presidente da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza]

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Vasco Arruda

E ao permanecerem ele, Frei Masseu, Frei Elias e alguns outros num lugar deserto, e estando num certo dia São Francisco no bosque para rezar, seus companheiros, que o tinham em grande reverência, temiam impedir de algum modo a oração dele, por causa das maravilhas que Deus lhe fazia nas orações.
Atos do Bem-aventurado Francisco e de seus companheiros
[Atos do Bem-aventurado Francisco e de seus companheiros, p. 1124. Em: Fontes Franciscanas e Clarianas. Apresentação Sergio M. Dal Moro; tradução Celso Márcio Teixeira… [et. al.]. 2ª. ed. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.]

Vasco Arruda

De fato há coisas estranhas na vida que não se explicam facilmente. É por isso que insisto em crer. Parece que a fé tem um poder de mobilização muito grande. William James o disse muito bem quando afirmou durante uma conferência dirigida aos grêmios filosóficos da Universidade de Yale e Brown University, que seria posteriormente publicada: “Sua fé atua sobre os poderes acima dele como uma afirmação e cria sua própria realização” (James, Willliam. A vontade de crer. Tradução de Cecília Camargo Bartalotti. – São Paulo: Loyola, 2011, p. 40). Pouco adiante, completa o psicólogo americano no mesmo texto: “…a fé num fato pode ajudar a criar o fato…” (p. 41).