Contemplando-o (ao Salvador), sempre de novo, pela meditação assídua, tua alma há de por fim encher-se dele e tu conformarás a tua vida interior e exterior com a sua. Ele é a luz do mundo; é nele, por ele e para ele que devemos ser iluminados. Ele é a árvore misteriosa do desejo de que fala a Esposa dos Cantares… Ele é a cisterna de Jacó, essa nascente de água viva e pura; a ela cumpre chegarmo-nos muitas vezes, para lavar nossa alma de suas manchas. Os meninos, como é sabido, ouvem continuamente as suas mães falarem e, esforçando-se por balbuciar com elas, aprendem a falar a mesma língua; deste modo nós, unindo-nos com nosso Senhor, pela meditação, e notando as suas palavras e ações, os seus sentimentos e inclinações, aprenderemos, por fim, com a sua graça, a falar como ele, a agir como ele, a julgar como ele e amar como ele. A ele é preciso prendermo-nos, Filoteia, e crê-me que não podemos ir a Deus, Pai, senão por esta porta que é Jesus Cristo, como ele mesmo nos disse. Realmente é necessário agarrar-se a isso, Filoteia, porque não é possível caminhar em direção a Deus Pai de outro modo.
São Francisco de Sales
[São Francisco de Sales. Introdução à vida devota, II,1. Petrópolis: Vozes, 1958, p. 82. Citado em: Sgarbossa, Mario. Os santos e os beatos da Igreja do Ocidente e do Oriente: com uma antologia de escritos espirituais. Tradução Armando Braio Ara. – São Paulo: Paulinas, 2003,p. 55.]
Em Maria refulge a condição do perfeito discípulo de Cristo. As categorias que ilustram a relação Maria-Igreja podem ser sintetizadas na comunhão e na exemplaridade: com e como Maria a Igreja crê, espera, ama, celebra, vive o mistério de Cristo, rumo à plena participação ao Reino dos céus.
Corrado Maggioni
[Maggioni, Corrado. Verbete: Maria, p. 1031. Em: Sodi, Manlio e Triacca, Achille M. (orgs.) com a colaboração de 195 peritos. Dicionário de Homilética. Apresentação de S. Emª. o Cardeal Silvano Piovanelli, Arcebispo de Florença; prefácio de Sergio Zavoli, Jornalista e escritor; tradução Orlando Soares Moreira e Silvana Cobucci Leite. São Paulo: Paulus: Loyola, 2010.]
Dai-me um homem de oração e ele será capaz de tudo.
São Vicente de Paulo (XI,83)
[Citado em: Renouard, Jean-Pierre. Orar 15 dias com São Vicente de Paulo. Tradução de Clóvis Bovo. – Aparecida, SP: Editora Santuário, 2004, p. 78. – (Coleção Orar 15 dias; 10)]
Foi no início da segunda metade de minha vida que comecei o meu confronto com o inconsciente. Foi um trabalho que se estendeu por longos anos e só depois de mais ou menos vinte anos cheguei a compreender em linhas gerais os conteúdos de minhas fantasias.
C. G. Jung
[Jung, C. G. Memórias, sonhos e reflexões. Reunidas e editadas por Aniela Jaffé. Tradução de Dora Ferreira da Silva. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, s/d, p. 177.]
Jesus foi um homem de uma extraordinária humanidade e acolhimento. Acolheu os pecadores para os converter, os doentes para os curar, os aflitos para os consolar, os endemoniados para os libertar, as crianças para as louvar, as mulheres para as honrar, os estrangeiros para os ajudar, as prostitutas para as salvar, os discípulos para os instruir, os inimigos para os perdoar. A todos considerou filhos de Deus e seus irmãos. O último ato de sua vida terrena foi o acolhimento em seu reino de um ladrão, seu companheiro de suplício: “Hoje, estarás comigo no paraíso” (Lc 23,43).
Angelo Amato
[Amato, Angelo. Verbete: Jesus Cristo. Em: Sodi, Manlio e Triacca, Achille M. (orgs.) com a colaboração de 195 peritos. Dicionário de Homilética. Apresentação de S. Emª. o Cardeal Silvano Piovanelli, Arcebispo de Florença; prefácio de Sergio Zavoli, Jornalista e escritor; tradução Orlando Soares Moreira e Silvana Cobucci Leite. São Paulo: Paulus: Loyola, 2010, p. 844.]
Não devemos considerar a alma algo isolado e limitado, mas um mundo interior onde cabem tantas e tão lindas moradas quanto as que tendes visto. E é certo que assim seja, pois dentro dessa alma há uma morada para o próprio Deus.
Santa Teresa d´Ávila
[Castelo Interior, Sétimas Moradas – Capítulo 1, p. 567. Em: Teresa de Jesus. Obras Completas. Texto estabelecido por Fr. Tomas Alvarez, O.C.D. Direção Pe. Gabriel C. Galache, SJ. Tradução de Adail Ubirajara Sobral e outros. – São Paulo: Edições Carmelitanas: Edições Loyola, 1995]
Certa vez, um estudante de teologia entrou numa grande livraria católica em busca de bibliografia atualizada sobre Maria. Perguntou ao atendente: “Onde estão os livros de mariologia?”. O funcionário da loja ficou um pouco assustado com a pergunta. Imediatamente se refez da surpresa, e disse: “Ah, livros sobre Nossa Senhora… Temos vários!”. E apresentou uma estante repleta de caderninhos, livretos e livros nos quais estavam expostos novenas, ladainhas, terço em família e tantas outras devoções. O cliente insistiu: “Mas eu quero livros de mariologia!”. “Eles estão aí e lhe garanto que são muito bons! Todo dia tem gente que vem comprar!”
Esse simples fato elucida algo comum nos meios católicos. Confunde-se facilmente o estudo sobre Maria, esta disciplina da teologia denominada mariologia ou marialogia, com a devoção mariana. Ambas são legítimas, mas comportam formas diferentes de se aproximar da Mãe de Jesus. A devoção compreende a relação de entrega, confiança, súplica, discernimento, gratidão e louvor a Deus e aos santos. Está no âmbito da religiosidade, das práticas culturais. Expressa a dimensão mística e culturalmente situada da crença. Já a mariologia exercita outra dimensão da fé: o conhecimento. Pois quem ama quer conhecer o(a) outro(a) para amá-lo(a) melhor e construir uma relação lúcida e madura. A piedade mariana sem teologia corre o risco de perder a lucidez, mover-se sem critérios e limites e degenerar-se em crendice. Já a teologia sem mística e piedade se degenera num discurso racional que se distancia do fascínio divino. Mostra-se desrespeitosa e pastoralmente inconsequente.
Ir. Afonso Murad
[Murad, Ir. Afonso. Introdução, p. 7. Em: Maria no coração da Igreja: múltiplos olhares sobre a Mariologia / União Marista do Brasil. – São Paulo: Paulinas: União Marista do Brasil – UMBRASIL, 2011. – (Coleção Maria em nossa vida)]
No mundo da psique, as experiências não estão ligadas pela causalidade, mas pelo significado. Existem outros padrões, que não os concretos, operando dentro de nós e, a menos que possamos compreender alguma coisa sobre a psique, as estranhas coincidências das cartas do Tarô poderão se apresentar diante de nós como altamente assustadoras ou mesmo profundamente perturbadoras. As ligações entre os fatos de nossa vida cotidiana e o Tarô não existem porque as cartas sejam mágicas, mas sim porque há um significado associado. É o que queremos dizer com o nascimento, a morte e a puberdade enquanto experiências externas e internas. Deparamo-nos com essas experiências em diferentes níveis e em diferentes momentos da vida e dessa maneira haverá sempre uma carta do Tarô que poderá descrever cada uma delas e que irá aparecer misteriosamente num jogo, sem qualquer motivo aparente, num momento em que estejamos experimentando, talvez interiormente, aquela situação arquetípica.
Juliet Sharman-Burke e Liz Greene
[Sharman-Burke, Juliet e Greene, Liz. O tarô mitológico. 14a. ed. Tradução Anna Maria Dalle Luche. – São Paulo: Siciliano, 1988, p. 14.]
Europa, Espanha, Barcelona, 09/10/1861, 10h da manhã. Local, data e horário onde a inquisição, dita santa durante a Idade Média, promoveria o seu último ato. Ali 300 obras espíritas foram expostas e queimadas, naquele pátio onde os criminosos promoviam o seu suspiro de vida, condenados à execução sumária. A época já não permitia que pessoas
fossem queimadas, como tantas o foram simplesmente por se oporem ao pensamento religioso vigente e considerado universal. O principal réu do processo, Allan Kardec, poupado pela evolução da civilização sobre a barbárie, denominou aquele fato de Auto de Fé de Barcelona e exortou aos espíritas de todo o mundo que doravante festejassem esse dia como
uma data de alegria e vitória da liberdade do pensamento. Na edição da Revista Espírita de novembro/1861 assevera em meio ao artigo: “Podem-se queimar os livros, mas não se queimam as ideias; as chamas das fogueiras as superexcitam em lugar de abafá-las. As ideias,
aliás, estão no ar, e não há Pirineus bastante altos para detê-las; e quando uma ideia é grande e generosa, ela encontra milhares de peitos prontos para aspirá-la”.
Terminada a sessão de labaredas das obras espíritas, o público ali presente, centenas de pessoas, mergulharam nas cinzas dos livros, enquanto a turba do clero se retirava sob os apupos de “abaixo a inquisição”, e retiravam restos das obras apenas parcialmente queimadas.
Kardec recebeu parte de O Livro dos Espíritos que sobrevivera ao fogo e guardou como peça de museu, uma representação ao poder da verdade ante o fogo covarde da ignorância.
Curiosamente, mas não por acaso, aquela obra que resistira em parte ao fogo, desponta nas salas do cinema nacional como a grande homenageada, 150 anos depois, com o título O Filme dos Espíritos. Sob a frase “essa obra mudou a minha vida”, O Livro dos Espíritos é o personagem principal de uma trama humana comum, igual a tantas tramas que sabemos ocorrerem mundo afora. Alguém que perdeu entes queridos levados pela morte, perdeu a direção da vida por se desviar pelo vício do álcool, sofreu demissão do emprego, sentiu-se fragilizado o suficiente para encarar a vida e pensou em matar-se. O Livro dos Espíritos apareceu em sua vida e o salvou do caos. Como se não bastasse o enredo em si mesmo, que poderia ser testemunhado por milhares de pessoas em torno do mundo, em todos os rincões nos quais as obras espíritas simplesmente salvam pessoas da loucura e do suicídio, parte da renda das exibições vão ser aplicadas à Fundação André Luiz, responsável por milhares de portadores de doenças psiquiátricas.
O Livro dos Espíritos, sobrevivente ao Auto de Fé de Barcelona, mentor intelectual e espiritual de Allan Kardec, Léon Denis, Camille Flamarion, William Crookes, Ernesto Bozzano, Chico Xavier, Divaldo Pereira Franco, Herculano Pires, Leopoldo Machado, Vianna de Carvalho, Bezerra de Menezes, entre tantos outros, é uma história de vitória do mundo espiritual que se contrapôs à cegueira.
O dia 09 de outubro é dia de comemorar. Em plena esplanada da cidade de Barcelona a insensatez foi derrotada, foi a última vez na historia da humanidade em que a inquisição intentou contra a vida e liberdade de expressão… E dessa vez perdeu. A verdade prevaleceu.
Editorial do dia 09/10/2011 do programa ANTENA ESPÍRITA
Todos sabem que a imagem de Nossa Senhora Aparecida foi encontrada por três pescadores no Rio Paraíba, em 1717. Além de seus nomes, entretanto, nada se conhece sobre aqueles homens. O documento que registra o fato foi assinado em 1757 pelo vigário João de Morais e Aguiar, sob o título “Notícias da Aparição da Imagem da Senhora”. Ele conta que tudo começou quando o governador da capitania passou pela vila de Guaratinguetá e sentiu vontade de comer peixe:
“Entre muitos, foram a pescar Domingos Martins Garcia, João Alves e Felipe Pedroso, em suas canoas. E principiando a lançar suas redes no porto de José Correa Leite, continuaram até o porto de Itaguaçu… sem tirar peixe algum”.
Que homens eram aqueles? Teriam sido fidalgos ou diletantes donos de terra que pescavam para se divertir? Ou seriam gente simples que tentava sobreviver em um dos lugares mais pobres da colônia? De qualquer modo, foram eles os responsáveis pela origem daquilo que é, hoje em dia, o mais importante fenômeno de religiosidade popular no país – o culto à Padroeira do Brasil:
“E lançando neste porto João Alves a sua rede de rasto, tirou o corpo da Senhora sem cabeça. Lançando mais abaixo outra vez a rede, tirou a cabeça da mesma Senhora, não se sabendo nunca quem ali a lançasse”.
Luciano Ramos
[Ramos, Luciano. Aparecida: Senhora dos brasileiros: a história de uma devoção na origem de um povo. – São Paulo: Paulinas, 2004, p. 7.]