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Vasco Arruda

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Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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Vasco Arruda

Amor fati V: A Esperança
Eis que dois deles viajavam nesse mesmo dia para um povoado chamado Emaús, a sessenta estádios de Jerusalém; e conversavam sobre todos esses acontecimentos. Ora, enquanto conversavam e discutiam entre si, o próprio Jesus aproximou-se e pôs-se a caminhar com eles; seus olhos, porém, estavam impedidos de reconhecê-lo. Ele lhes disse: “Que palavras são essas que trocais enquanto ides caminhando?” E eles pararam com o rosto sombrio.
Um deles, chamado Cléofas, lhe perguntou: “Tu és o único forasteiro em Jerusalém que ignora os fatos que nela aconteceram nestes dias?” – “Quais?”, disse-lhes ele. Responderam: “O que aconteceu a Jesus, o Nazareno, que foi profeta poderoso em obras e em palavras, diante de Deus e diante de todo o povo: como nossos sumos sacerdotes e nossos chefes o entregaram para ser condenado à morte e o crucificaram. Nós esperávamos que fosse ele quem redimiria Israel; mas, com tudo isso, faz três dias que todas essas coisas aconteceram! É verdade que algumas mulheres, que são dos nossos, nos assustaram. Tendo ido muito cedo ao túmulo e não tendo encontrado o corpo, voltaram dizendo que haviam tido uma visão de anjos a declararem que ele está vivo. Alguns dos nossos foram ao túmulo e encontraram as coisas tais como as mulheres haviam dito; mas não o viram!”
Ele, então, lhes disse: “Insensatos e lentos de coração para crer tudo o que os profetas anunciaram! Não era preciso que o Cristo sofresse tudo isso e entrasse em sua glória?” E, começando por Moisés e percorrendo todos os Profetas, interpretou-lhes em todas as Escrituras o que a ele dizia respeito.
Aproximando-se do povoado para onde iam, Jesus simulou que ia mais adiante. Eles, porém, insistiram dizendo: “Permanece conosco, pois cai a tarde e o dia já declina”. Entrou então para ficar com eles. E, uma vez à mesa com eles, tomou o pão, abençoou-o, depois partiu-o e deu-o a eles. Então seus olhos se abriram e o reconheceram; ele, porém, ficou invisível diante deles. E disseram um ao outro: “Não ardia o nosso coração quando ele nos falava pelo caminho, quando nos explicava as Escrituras?”
Naquela mesma hora, levantaram-se e voltaram para Jerusalém. Acharam aí reunidos os Onze e seus companheiros, que disseram: “É verdade! O Senhor ressuscitou e apareceu a Simão!” E eles narraram os acontecimentos do caminho e como o haviam reconhecido na fração do pão.
Falavam ainda, quando ele próprio se apresentou no meio deles e disse: “A paz esteja convosco!” Tomados de espanto e temor, imaginavam ver um espírito. Mas ele disse: “Por que estais perturbados e por que surgem tais dúvidas em vossos corações?” Vede minhas mãos e meus pés: sou eu! Apalpai-me e entendei que um espírito não tem carne, nem ossos, como estais vendo que eu tenho”. Dizendo isso, mostrou-lhes as mãos e os pés. E como, por causa da alegria, não podiam acreditar ainda e permaneciam surpresos, disse-lhes: “Tendes o que comer?” Apresentaram-lhe um pedaço de peixe assado. Tomou-o, então, e comeu-o diante deles.
Depois disse-lhes: “São estas as palavras que eu vos falei, quando ainda estava convosco: era preciso que se cumprisse tudo o que está escrito sobre mim na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos”. Então abriu-lhes a mente para que entendessem as Escrituras, e disse-lhes: “Assim está escrito que o Cristo devia sofrer e ressuscitar dos mortos ao terceiro dia, e que, em seu Nome, fosse proclamado o arrependimento para a remissão dos pecados a todas as nações, a começar por Jerusalém. Vós sois testemunhas disso. Eis que eu enviarei sobre vós o que meu Pai prometeu. Por isso, permanecei na cidade até serdes revestidos da força do Alto”.
Depois, levou-os até Betânia e, erguendo as mãos, abençoou-os. E enquanto os abençoava, distanciou-se deles e era elevado ao céu. Eles ficaram prostrados diante dele, e depois voltaram a Jerusalém com grande alegria, e estavam continuamente no Templo, louvando a Deus.
Lc 24,13-53
[Bíblia de Jerusalém. Gorgulho, Gilberto da Silva; Storniolo, Ivo; Anderson, Ana Flora (Coord.). Tradução do texto em língua portuguesa diretamente dos originais. 4ª reimpressão. São Paulo: Paulus, 2006, p. 1833]

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Amor fati IV: O silêncio
No primeiro dia da semana, muito cedo ainda, elas foram ao sepulcro, levando os aromas que tinham preparado. Encontraram a pedra do túmulo removida, mas, ao entrar, não encontraram o corpo do Senhor Jesus. E aconteceu que, estando perplexas com isso, dois homens se postaram diante delas, com veste fulgurante. Cheias de medo, inclinaram o rosto para o chão; eles, porém, disseram: “Por que procurais entre os mortos aquele que vive? Ele não está aqui; ressuscitou. Lembrai-vos de como vos falou, quando ainda estava na Galileia: ´É preciso que o Filho do Homem seja entregue às mãos dos pecadores, seja crucificado, e ressuscite ao terceiro dia´”. E elas se lembraram de suas palavras.
Ao voltarem do túmulo, anunciaram tudo isso aos Onze, bem como a todos os outros. Eram Maria Madalena, Joana e Maria, mãe de Tiago. As outras mulheres que estavam com elas disseram-no também aos apóstolos; essas palavras, porém, lhes pareceram desvario, e não lhes deram crédito.
Pedro, contudo, levantou-se e correu ao túmulo. Inclinando-se, porém, viu apenas os lençóis. E voltou para casa, muito surpreso com o que acontecera.
Lc 24,1-12
[Bíblia de Jerusalém. Gorgulho, Gilberto da Silva; Storniolo, Ivo; Anderson, Ana Flora (Coord.). Tradução do texto em língua portuguesa diretamente dos originais. 4ª reimpressão. São Paulo: Paulus, 2006, p. 1832

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Amor fati III: O sacrifício
Jesus foi posto perante o governador e o governador interrogou-o: “És tu o rei dos judeus?” Jesus declarou: “Tu o dizes”. E ao ser acusado pelos chefes dos sacerdotes e anciãos, nada respondeu. Então lhe disse Pilatos: “Não ouves de quanta coisa te acusam?” Mas ele não lhe respondeu sequer uma palavra, de tal sorte que o governador ficou muito impressionado.
Por ocasião da festa, era costume o governador soltar um preso que a multidão desejasse. Nessa ocasião, tinham eles um preso famoso, chamado Barrabás. Como estivessem reunidos, Pilatos lhes disse: “Quem quereis que vos solte, Barrabás ou Jesus, que chamam Cristo?” Ele sabia, com efeito, que eles o haviam entregue por inveja.
Enquanto estava sentado no tribunal, sua mulher lhe mandou dizer: “Não te envolvas com esse justo, porque muito sofri hoje em sonho por causa dele”.
Os chefes dos sacerdotes e os anciãos, porém, persuadiram as multidões a que pedissem Barrabás e que fizessem Jesus perecer. O governador respondeu-lhes: “Qual dos dois quereis que vos solte?” Disseram: “Barrabás.” Pilatos perguntou: “Que farei de Jesus, que chamam Cristo?” Todos responderam: “Seja crucificado!” Tornou a dizer-lhes: “Mas que mal ele fez?” Eles, porém, gritavam com mais veemência: “Seja crucificado!” Vendo Pilatos que nada conseguia, mas, ao contrário, a desordem aumentava, pegou água e, lavando as mãos na presença da multidão, disse: “Estou inocente desse sangue. A responsabilidade é vossa”. A isso todo o povo respondeu: “O seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos”. Então soltou-lhes Barrabás. Quanto a Jesus, depois de açoitá-lo, entregou-o para que fosse crucificado.
Em seguida, os soldados do governador, levando Jesus para o Pretório, reuniram contra ele toda a coorte. Despiram-no e puseram-lhe uma capa escarlate. Depois, tecendo uma coroa de espinhos, puseram-lhe na cabeça e um caniço na mão direita. E, ajoelhando-se diante dele, diziam-lhe, caçoando: “Salve, rei dos judeus!” E cuspindo nele, tomavam o caniço e batiam-lhe na cabeça. Depois de caçoarem dele, despiram-lhe a capa escarlate e tornaram a vesti-lo com suas próprias vestes, e levaram-no para o crucificar.
Ao saírem, encontraram um homem de Cirene, de nome Simão. E o requisitaram para que carregasse a cruz de Jesus. Chegando ao lugar chamado Gólgota, isto é, lugar que chamavam de Caveira, deram-lhe de beber vinho misturado com fel. Ele provou, mas não quis beber. E após crucificá-lo, repartiram entre si suas vestes, lançando a sorte. E, sentando-se ali, montavam-lhe guarda. E colocaram acima da sua cabeça, por escrito, o motivo da sua condenação: “Este é Jesus, o Rei dos Judeus”. Com ele foram crucificados dois ladrões, um à direita, outro à esquerda.
Os transeuntes injuriavam-no, meneando a cabeça e dizendo: ”Tu que destróis o Templo e em três dias o reedificas, salva-te a ti mesmo, se és Filho de Deus, e desce da cruz!” Do mesmo modo, também os chefes dos sacerdotes, juntamente com os escribas e anciãos, caçoavam dele: “A outros salvou, a si mesmo não pode salvar! Rei de Israel que é, que desça agora da cruz e creremos nele! Confiou em Deus: pois que o livre agora, se é que se interessa por ele! Já que ele disse: Eu sou filho de Deus”. E até os ladrões, que foram crucificados junto com ele, o insultavam.
Desde a hora sexta até à hora nona, houve treva em toda a terra. Por volta da hora nona, Jesus deu um grande grito: “Eli, Eli, lamá sabachtháni?”, isto é: “Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?”
Alguns dos que tinham ficado ali, ouvindo-o, disseram: “Está chamando Elias!” Imediatamente um deles saiu correndo, pegou uma esponja, embebeu-a em vinagre e, fixando-a numa vara, dava-lhe de beber. Mas os outros diziam: “Deixa, vejamos se Elias vem salvá-lo!” Jesus, porém, tornando a dar um grande grito, rendeu o espírito.
Nisso, o véu do Santuário se rasgou em duas partes, de cima a baixo, a terra tremeu e as rochas se fenderam. Abriram-se os túmulos e muitos corpos dos santos falecidos ressuscitaram. E, saindo dos túmulos após a ressurreição de Jesus, entraram na Cidade Santa e foram vistos por muitos. O centurião e os que com ele guardavam a Jesus, ao verem o terremoto e tudo que estava acontecendo, ficaram muito amedrontados e disseram: “De fato, este era filho de Deus!”
Estavam ali muitas mulheres, olhando de longe. Haviam acompanhado Jesus desde a Galileia, a servi-lo. Entre elas, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu.
Mt 27,11-56
[Bíblia de Jerusalém. Gorgulho, Gilberto da Silva; Storniolo, Ivo; Anderson, Ana Flora (Coord.). Tradução do texto em língua portuguesa diretamente dos originais. 4ª reimpressão. São Paulo: Paulus, 2006, p. 1754]

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Vasco Arruda

Amor fati II: O banquete
Veio o dia dos Ázimos, quando devia ser imolada a páscoa. Jesus então enviou Pedro e João, dizendo: “Ide preparar-nos a páscoa para comermos”. Perguntaram-lhe: “Onde queres que a preparemos?” Respondeu-lhes: “Logo que entrardes na cidade, encontrareis um homem levando uma bilha de água. Segui-o até à casa em que ele entrar. Direis ao dono da casa: ´O Mestre te pergunta: onde está a sala em que comerei a páscoa com os meus discípulos?` E ele vos mostrará, no andar superior, uma grande sala, provida de almofadas; preparai ali”. Eles foram, acharam tudo como dissera Jesus, e prepararam a páscoa.
Quando chegou a hora, ele se pôs à mesa com seus apóstolos e disse-lhes: “Desejei ardentemente comer esta páscoa convosco antes de sofrer; pois eu vos digo que já não a comerei até que ela se cumpra no Reino de Deus”.
Então, tomando uma taça, deu graças e disse: “Tomai isto e reparti entre vós; pois eu vos digo que doravante não beberei do fruto da videira, até que venha o Reino de Deus”.
E tomou um pão, deu graças, partiu e deu-o a eles, dizendo: “Isto é o meu corpo que é dado por vós. Fazei isto em minha memória”. E, depois de comer, fez o mesmo com a taça, dizendo: “Essa taça é a Nova Aliança em meu sangue, que é derramado por vós”.
Lc 22,7-20
[Bíblia de Jerusalém. Gorgulho, Gilberto da Silva; Storniolo, Ivo; Anderson, Ana Flora (Coord.). Tradução do texto em língua portuguesa diretamente dos originais. 4ª reimpressão. São Paulo: Paulus, 2006, p. 1827]

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Vasco Arruda

Amor fati I: Getsêmani
Ele saiu e, como de costume, dirigiu-se ao monte das Oliveiras. Os discípulos o acompanharam. Chegando ao lugar, disse-lhes: “Orai para não entrardes em tentação”.
E afastou-se deles mais ou menos a um tiro de pedra, e, dobrando os joelhos, orava: “Pai, se queres, afasta de mim este cálice! Contudo, não a minha vontade, mas a tua seja feita!” Apareceu-lhe um anjo do céu, que o confortava. E, cheio de angústia, orava com mais insistência ainda, e o suor se lhe tornou semelhante a espessas gotas de sangue que caíam por terra.
Erguendo-se após a oração, veio para junto dos discípulos e encontrou-os adormecidos de tristeza. E disse-lhes: “Por que estais dormindo? Levantai-vos e orai, para que não entreis em tentação!”
Lc 22,39-46
[Bíblia de Jerusalém. Gorgulho, Gilberto da Silva; Storniolo, Ivo; Anderson, Ana Flora (Coord.). Tradução do texto em língua portuguesa diretamente dos originais. 4ª reimpressão. São Paulo: Paulus, 2006, p. 1829]

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Vasco Arruda

A liberdade de Jesus impressionou tanto os seus contemporâneos, a ponto de um fariseu elogiá-lo, dizendo: “Mestre, sabemos que és verdadeiro e que, de fato, ensinas o caminho de Deus. Não dás preferência a ninguém, pois não consideras o ser humano pelas aparências…” (Mc 12,14). Essa liberdade tem a sua fonte e está arraigada na união de Jesus com o Pai. Ele afirma que o Pai está n´Ele e Ele no Pai. Essa identificação confere-lhe autoridade para realizar a obra do Pai e assumir essa atitude de liberdade face ao poder religioso e político que deturpa a imagem de Deus (Jo 10,22-39).
Jesus não só se revela como um homem livre em seu modo de ser e agir, mas, ao mesmo tempo, assume uma atitude libertadora em relação às pessoas com as quais entra em contato. Ele é fautor de liberdade, tornando as pessoas livres. Liberta, antes de mais nada, de uma concepção mistificadora e deturpada de Deus. A religião muitas vezes foi usada como garantia de relações sociais injustas e para defender interesses de grupos. A visão religiosa servia para justificar privilégios. Nada oprime mais do que um deus opressor. Jesus vem libertar de um deus imaginário construído pela mão do ser humano e revelar a verdadeira face amorosa de Deus. A ternura divina revelada no agir de Jesus liberta de todos os temores que se possa ter em relação a Deus. As curas milagrosas de doentes, as refeições com publicanos e pecadores, a acolhida de prostitutas são expressões da ternura que libertam das condenações e discriminações fundadas na religião.
[Junges, José Roque. A Ética de Jesus e os Cristãos. In: Aquino, Marcelo Fernandes de (organização de). Jesus de Nazaré, profeta da liberdade e da esperança. – São Leopoldo: Ed. UNISINOS, 1999, p. 227.]

Vasco Arruda

Recebi, ontem, mensagem do prof. Carlo Tursi comunicando o lançamento do Blog do Movimento de Formação Cristã de Fortaleza. Parabenizo os organizadores do blog pela iniciativa que, seguramente, produzirá bons frutos. Segue, abaixo, a mensagem com o link de acesso ao blog:
Atenção, amig@s,
o Movimento em prol de uma Formação Cristã de Qualidade acaba de colocar on line seu blog. Confiram e divulguem artigos, notícias e eventos acerca de uma formação teológico-catequética que não adormece nem aliena as pessoas, mas as desperta e liberta para a ação transformadora no mundo de hoje. Sejamos tod@s corresponsáveis na construção desta ampla corrente de pensamento e ação! Uma outra forma de interpretar e viver o cristianismo é possível, longe dos afunilamentos clericais e reducionismos sacramentalistas, da glossolalia imbecilizante e indiferença social escandalosa. É necessário romper com o adestramento romano da Teologia, nos seminários e faculdades católicas, que desemboca numa visão juridicista e patrimonialista de Igreja e Pastoral. O Espírito sopra onde quer.
Abraços,
Carlo Tursi
Link de acesso ao blog: http://blogformacaocristafortaleza.blogspot.com/

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Vasco Arruda

Quem é Jesus para a comunidade joanina? É o “filho de José, de Nazaré” (Jo 1,45), aparentemente insignificante (1,46), vivendo a vida do profeta rejeitado. A comunidade lembra os “sinais” desse profeta, suas credenciais, que não foram reconhecidas (12,37). Se houve alguma “suspeita” de que ele fosse o Messias, isso não era entendido no sentido certo; não era entendido no sentido de um revelador do rosto de Deus, mas de um Messias nacional, um “salvador da pátria” (6,14). O próprio termo “Messias” ou “Cristo” não é muito importante para João. Mais importante é o título de “Filho do Homem”, que sugere a origem celeste e o papel de vencer as potências do mundo (Dn 7,13-14).
O mais importante, porém, é ver em Jesus o Filho, sem mais: o Filho de Deus que por amor se põe a serviço da vontade salvífica do Pai (Jo 3,16). Porque ele sabe que o Pai o ama, ele também ama os seus até o fim (Jo 13,1; 15,9-12), deixando-lhes seu exemplo e a missão de amor do mesmo jeito.
A situação de opressão, em vez de ser uma razão de desespero, torna-se assim um desafio ao amor fraterno e à resistência contra as forças sedutoras e dispersivas que têm o nome de Satanás, Diabo, Apolião… A contemplação da glória conferida ao Filho – Cordeiro imolado, entregando a vida pelos seus – e a presença de seu Espírito sustentam na comunidade a vida verdadeira e definitiva que possuem aqueles que trilham seu caminho.
Johan Konings
[Konings, Johan. Cristologia na Comunidade Joanina. In: Aquino, Marcelo Fernandes de (organização de). Jesus de Nazaré, profeta da liberdade e da esperança. – São Leopoldo: Ed. UNISINOS, 1999, p. 71.]

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Vasco Arruda

Jesus é a última, a mais aguda, (a mais definida) expressão da fidelidade de Deus testemunhada pela lei e pelos profetas. Ele é a PALAVRA que aclara todas as demais.
A penetração e sua morada na ambiguidade humana e nas mais densas trevas são fidelidade de Deus. (E apesar dessa penetração, a sua visão é de integral obediência ao Deus fiel).
Ele se põe como pecador perante os pecadores; submete-se inteiramente ao juízo a que o mundo está sujeito. Ele se situa lá onde só Deus pode estar presente: na indagação que se faça a respeito de sua existência. Toma a forma de servo. Na morte, vai até a cruz.
No apogeu, no píncaro de sua trajetória terrena é ele uma grandeza puramente negativa; de forma nenhuma é genial; de maneira nenhuma é portador de forças psíquicas, quer manifetsas, quer ocultas.
Não é nem herói, nem líder, nem poeta, nem pensador, e nesta absoluta negação (meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?) ele apresenta o impossível “mais”.
Ele sacrifica a outro, invisível, todas as qualidades e possibilidades humanas que sejam imagináveis: genialidade, forças psíquicas, heroísmo, estética, filosofia.
Karl Barth
[Barth, Karl. Carta aos Romanos. De Karl Barth por Koller Anders, segundo a quinta edição alemã (impressão de 1967). Tradução Lindolfo Anders; revisão Anisio Justino. São Paulo: Fonte Editorial Ltda., 2005, p. 146.]