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Vasco Arruda

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Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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Vasco Arruda

Contemplar em atitude de oração o Jesus da história em quem o cristão acredita que Deus estava vivendo humanamente é olhar com toda profundidade para as mais plenas possibilidades do ser humano. A ênfase da humanidade de Jesus, que é uma recuperação feita pela cristologia contemporânea, é a correção a uma superênfase dada à divindade de Cristo, e de uma maneira de se ver Cristo somente pela perspectiva de sua divindade. A teologia especulara sobre o que era apropriado a Deus e então pressupõe esses mesmos atributos em Jesus, eliminando efetivamente quase todos os vestígios de seu ser humano, em todo sentido verdadeiro da palavra. Esse Jesus não podia ficar doente, não podia crescer em santidade, tinha a previsão exata de cada evento e gozava da visão beatífica mesmo em sua condição terrena.
Estudos críticos das Escrituras distinguem uma perspectiva pós-ressurrecional por parte dos autores dos evangelhos. Precisamos distinguir, meditando sobre Jesus, esses elementos verdadeiros embora interpretativos, nos quais os primeiros cristãos tentaram conceituar e verbalizar suas extraordinárias experiências com essa pessoa. Se pudéssemos estar ao lado deles em seus encontros com Jesus, poderíamos facilmente apreciar a beleza das mitologias inspiradas que surgiram a partir do processo primário de pensamento tanto de Jesus quanto de seus primeiros discípulos, e que foram preservadas para nós nas preciosidades que compreendem o Novo Testamento. Ao mesmo tempo, se conseguirmos distinguir essas mitologias, elas não precisarão obscurecer a verdadeira humanidade de Jesus, nem o paradoxo que ele encarna.
Anne Brennan e Janice Brewi
[Brennan, Anne e Brew, Janice. Meia-idade e vida: oração e lazer, fontes de um novo dinamismo. 2ª. ed. Tradução Isa F. Leal Ferreira; revisão Ivo Storniolo. São Paulo: Paulus, 1991, p. 125. – (Col. Amor e psique).]

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Vasco Arruda

E lá continuávamos nós novamente na batalha, mais renovados e mais felizes, pois sabíamos que não estávamos sós. E assim, com o tempo, acabamos por aprender com a Mãe muitas coisas… Entre elas foi dizer algo muito especial: – “Maria, passa na frente!” Quando fazíamos isto, as batalhas eram vencidas, as portas trancadas se abriam, as pessoas certas surgiam no caminho para nos ajudar, os corações endurecidos à nossa frente amoleciam, o demônio corria embora, a coragem retornava! Não importava o que tínhamos a fazer, orávamos e dizíamos: “Maria, passa na frente!” porque Ela nos mostrou o poder extraordinário que há nesse pedido! É como achar a chave certa para a fechadura de uma porta trancada e ouvir o clique do abrir.
Denis e Suzel Bourgerie
[Bourgerie, Suzel e Denis. Maria, Passa na Frente! 37ª. ed. Campinas, SP: Edições Logos, s/d, p. 5.]

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Marcaram um dia, pois, com ele, e vieram em maior número encontrá-lo em seu alojamento. Ele lhes fez uma exposição, dando testemunho do Reino de Deus e procurando persuadi-los a respeito de Jesus, tanto pela Lei de Moisés quanto pelos Profetas. Isto, desde a manhã até a tarde. Uns se deixaram persuadir pelo que ele dizia; outros, porém, recusavam-se a crer. Estando assim discordantes entre si, eles se despediram, enquanto Paulo dizia uma só palavra: “Bem falou o Espírito Santo a vossos pais, por meio do Profeta Isaías, quando disse:
Vai ter com este povo e dize-lhe: em vão escutareis, pois não compreendereis; em vão olhareis, pois não vereis. É que o coração deste povo se endureceu: eles taparam os ouvidos e vendaram os olhos, para não verem com os olhos, nem ouvirem com os ouvidos, nem entenderem com o coração, para que não se convertam, e eu não os cure!
Ficai, pois, cientes: aos gentios é enviada esta salvação de Deus. E eles a ouvirão”.
Atos dos Apóstolos 28,23-28
[Bíblia de Jerusalém. Gorgulho, Gilberto da Silva; Storniolo, Ivo; Anderson, Ana Flora (Coord.). Tradução do texto em língua portuguesa diretamente dos originais. 4ª reimpressão. São Paulo: Paulus, 2006, p. 1953.]

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O discernimento espiritual é a chave de toda a oração. Assim o assinalou energicamente Inácio de Loyola; assim o destacaram depois muitos crentes. O discernimento continua sendo experiência pessoal, no sentido mais profundo deste termo: cada um deve excutar a voz de Deus e realizá-la, correspondendo a ela de maneira criativa.
Xavier Pikaza
[Pikaza, Xavier. Verbete: Oração. Em: Dicionário de Conceitos Fundamentais do Cristianismo. Dirigido por Casiano Floristán Samanes e Juan-José Tamayo-Acosta. Tradução Isabel Fontes Leal Ferreira e Ivone de Jesus Barreto. – São Paulo: Paulus, 1999, p. 545. – (Coleção dicionários).]

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Naqueles dias, eu era um daqueles que desceram de Nazaré para ser batizado por João, nas águas do Jordão. Segundo o Evangelho de Marcos, em minha imersão, os céus se abriram, ví “um espírito sob a forma de uma pomba, descendo” e uma voz poderosa disse: “Você é o Meu filho amado e em ti Eu me sinto bem satisfeito.” Então, o Espírito me conduziu ao deserto, onde permaneci durante quarenta dias, e onde Satã veio me tentar.
Porquanto não diria que as palavras de Marcos sejam falsas, elas contêm muito exagero. E mais ainda as de Mateus, e Lucas, e João, que me atribuíram frases que nunca proferi, descrevendo-me como amável, quando eu estava pálido de ira. Eles escreveram muitos anos depois de minha partida, apenas repetindo o que escutaram de homens mais velhos. Muito velhos, mesmo. São histórias tão sem fundamento quanto um arbusto desprendido de suas raízes e que vagueia ao léu, tangido pelo vento.
Portanto, farei meu próprio relato. Aos que eventualmente perguntarem de que modo minhas palavras chegaram a esta página, dir-lhes-ei tratar-se de um pequeno milagre – meu evangelho, afinal, falará de milagres. Contudo, minha expectativa é chegar tão perto da verdade quanto possível. Marcos, Mateus, Lucas e João buscavam aumentar seu rebanho. E o mesmo vale para outros evangelhos, escritos por outros homens. Alguns desses escribas só falariam aos judeus que se prontificaram a me seguir após a minha morte, e alguns pregaram apenas para os gentios, que odiavam os judeus, embora tivessem fé em mim. Posto que cada um empenhava-se no fortalecimento da sua própria igreja, como poderiam não misturar o que era verdade com o que não era? Todavia, como de todas essas igrejas somente uma prevaleceu, e essa escolheu apenas quatro evangelhos, as demais foram condenadas por igualar “palavras imaculadas e sagradas” a “mentiras descaradas”.
Tivessem sido escolhidos quarenta, em vez de quatro, nem assim se daria conta da verdade, que pode estar conosco, num lugar, e enterrada em outro. Por conseguinte, o que vou contar não é uma história simples, nem sem surpresas, mas verdadeira, pelo menos considerando tudo aquilo de que me lembro.
Norman Mailer
[Mailer, Norman. O Evangelho Segundo o Filho. 3ª. ed. – Tradução de Marcos Aarão Reis e Valéria Rodrigues. Rio de Janeiro: Record, 1998, p. 7.]

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Sem mais, foi o jesuíta Auguste Valensin ao enunciar o essencial quando admite que, embora impossível, se se lhe mostrasse, no leito de morte, com a mais perfeita evidência, que ele errou, que não existe sobrevivência, que não existe sequer Deus, não se arrependeria de ter crido; mas se sentiria honrado porque creu em tudo isso, porque mesmo que o universo seja algo imbecil e digno de desprezo, pior para o universo, porque não errou quem pensou que existe Deus, mas o erro seria de Deus se Ele não existisse; algo semelhante não consigo encontrar fora ou acima do credo que Dostoiévski tinha formulado para si e que apresenta de modo muito simples: creio que não existe nada mais belo, mais profundo, mais excitante, mais razoável, mais viril e mais perfeito do que Cristo, mas muito mais do que isso, se alguém me provasse que Cristo está fora da verdade e que de fato a verdade está fora de Cristo, melhor seria então ficar com Cristo do que com a verdade.
Isso é tudo o que tenho à mão, algumas citações (de homens sensatos) e um sentimento – tão delicado, assistemático e frágil. E, no entanto, esse capital vago, pequeno e humilde – com o passar dos anos de prisão é meu único proveito, um embrulho pequeno – basta-me para dar-me uma segurança sólida e para transmitir-me o convencimento indestemido de que sei o que devo e o que não devo fazer.
A incerteza é a lei fundamental da civilização ocidental – e é seu signo zodíaco; é também a condição de base do cristianismo. Mas dela se aproxima – “não provada” pelo plano humano, científico – aqueles convencimentos que são mais duros do que os teoremas, como rochas. (Temo-las das autoridades maiores). Impulsionado por eles, saberei sempre o que fazer, por meio deles posso restabelecer a qualquer tempo a ligação rompida com Deus, e a alegria; por cima do abismo, o posto emissor e o posto receptor podem entrar instantaneamente em comunicação.
Nicolae Steinhardt
[Steinhardt. N. O Diário da Felicidade. Tradução e revisão de Elpídio Mário Dantas Fonseca; revisão do texto romeno de Cristina Nicoleta M?nescu. São Paulo: É Realizações Editora, Livraria e Distribuidora Ltda., 2009, p. 146].

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Depois disso, ele saiu e viu sentado ao balcão um coletor de impostos, por nome Levi, e disse-lhe: “Segue-me”. Deixando ele tudo, levantou-se e o seguiu.
Levi deu-lhe um grande banquete em sua casa; vários desses fiscais e outras pessoas estavamn sentados à mesa com eles. Os fariseus e os seus escribas puseram-se a criticar e a perguntar aos discípulos: “Por que comeis e bebeis com os publicanos e pessoas de má vida?” Respondeu-lhes Jesus: “Não são os homens de boa saúde que necessitam de médico, mas sim os enfermos. Não vim chamar à conversão os justos, mas sim os pecadores”.
Lucas 5,27-32
[Bíblia Sagrada Ave-Maria. Tradução dos originais grego, hebraico e aramaico mediante a versão dos Monges Beneditinos e Maredsous {Bélgica}. 1ª. ed. São Paulo: Editora Ave-Maria, Edição Claretiana – 2009 – Revisada, p. 1353].

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Como parte das comemorações dos 83 anos do Jornal O POVO, ocorrida no dia 7 deste mês, um grupo de mais de sessenta funcionários dessa empresa jornalística se reuniu na Praçã do Ferreira, local onde foi gestada a ideia de sua criação, para a realização de um flash mob. Iniciando-se com uma distribuição de jornais, a ação teve prosseguimento com a execução de algumas coreografias que surpreenderam os transeuntes. A seguir, em meio a uma chuva de papel picado, foi descerrado do alto do edifício Severiano Roibeiro um banner de 15 metros parabenizando o jornal pelo aniversário.

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Vasco Arruda

A crítica literária, por muito tempo tida como periférica ou mesmo irrelevante aos estudos bíblicos, emergiu desde meados da década de 1970 como um novo foco importante de estudos bíblicos acadêmicos na América do Norte, Inglaterra e Israel, e tem mostrado alguns sinais notáveis na Europa. É natural, portanto, que nosso empreendimento deva ser internacional. Nosso colaboradores vêm de cátedras de ensino (com duas exceções, de universidades seculares) nos Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, Israel, Itália e Holanda. Alguns estão envolvidos, pela fé, com os textos que estudam, ao passo que outros se veriam essencialmente como críticos seculares. Mas falam uma linguagem crítica comum, pois as diferenças entre eles derivam muito mais da sensibilidade individual e da preferência intelectual, do que de antecedentes religiosos. Em muitos casos, procuramos recrutar escritores que já tivessem dado alguma contribuição notável a este campo de pesquisa, mas não hesitamos em recorrer também a vários estudiosos mais jovens cujo trabalho inicial nos pareceu bastante promissor. O volume, então, é um ponto de encontro não apenas de nacionalidades e credos, mas também de gerações acadêmicas. A variedade de perspectivas resultante, juntamente com a unidade de propósito geral proporcionam um panorama vívido de mais de mil anos de atividade literária diversa representada na Bíblia.
Robert Alter e Frank Kermode
[Alter, Robert e Kermode, Frank (Organizadores). Guia Literário da Bíblia. Tradução Raul Fiker; revisão de tradução Gilson César Cardoso de Souza. – São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1997, p. 16. – (Prismas)]